- Os nomes de bebês: já havia comentado no texto do episódio dois que essa era uma cena do capítulo onze do livro que não havia sido posta no episódio mencionado e que eu tinha sentido falta. Eles a introduziram na série de TV de forma bem diferente, tendo utilidade na cena mais a frente em que Claire encontra as marcas de mordidas em Jamie para ilustrar o distanciamento dele em relação a ela. No livro, a conversa ocorre quando eles estão deitados na cama por sugestão de Jamie, e Claire até pensa que ainda é muito cedo para conversar sobre nomes, pois a barriga dela está apenas começando a aparecer. É um momento de carinho entre eles. Ele sugere o nome “Dalhousie” primeiramente, o qual ele também menciona na tela, já Claire não gosta do nome “Lambert” (o contrário do que ocorreu na TV onde é ela quem sugere este nome) quando o próprio Jamie sugere dar a criança o nome do tio dela que a criou, considerando que ela não gostou da opção que Jamie havia dado. E eles seguem discutindo nomes de meninos como um começo, diz o próprio Jamie, até que são interrompidos pela entrada de Charles Stuart no quarto, fugindo da casa da amante. Na série de TV, a conversa sobre nomes de bebês ocorre por meio da pergunta de Duverney no jogo de xadrez entre ele e Jamie que Claire acompanhava. Acabaram assim por unir esta cena com a do “envenenamento” de Claire que no livro só ocorre no capítulo dezesseis (A natureza do enxofre). No capítulo dezesseis, Claire vai assistir ao jogo de xadrez entre Jamie e Monsieur Duverney assim como no início do episódio, onde provavelmente foi “envenenada”, mas ela só sente os efeitos durante a noite, enquanto dormia.
- O “envenenamento” de Claire: no capítulo dezesseis do livro, Claire acorda de um sono com uma enorme dor de barriga. Jamie sai desesperado do quarto em busca de ajuda achando que ela estivesse perdendo o bebê. No livro, Jamie fica bem desesperado. Claire é atendida pelo médico real já que eles estavam em um “appartement” em Versalhes, o qual informa que ela não estava sofrendo um aborto, mas que achava que ela estava com uma inflamação na vesícula ou no fígado. Como o médico pretendia sangra-la e Claire sabia o quão inútil e potencialmente perigoso isso poderia ser, gritou para que Jamie não deixasse o “charlatão” tocá-la e Jamie assim o fez. Pela conversa das senhoras que se reuniram com a gritaria, Claire escutou alguém comentando “veneno” e percebeu o que havia acontecido com ela. Alguém havia comprado a cáscara-sagrada disfarçada de veneno do Mestre Raymond para tentar matá-la. Na série de TV, a cena foi unida ao jogo de xadrez e não aparece o atendimento do médico, mas enquanto Claire descansa em sua própria casa, ela informa a Jamie que Black Jack Randall está vivo e ele fica feliz? Estranhei um pouco a reação porque no livro ele fica possesso quando descobre (um pouco depois de Claire encontrar o infeliz do Randall). Nessa fase de A Libélula no Âmbar, eles ainda não encontraram o Capitão e por isso não sabem da sua sobrevivência. No segundo livro, Jamie já havia passado pelo processo de cura de Claire (que ocorre no final do primeiro livro) e havia recuperado sua masculinidade. Como isso não havia acontecido na série de TV, os produtores uniram o desejo e a possibilidade de vingança de Jamie com a volta de sua virilidade. Assim, ele consegue voltar a enxergar alegria na sua vingança, além de consequentemente voltar a ir para cama com sua mulher (o que não era um problema no livro dois em decorrência da cura que já havia acontecido).
- O acerto de contas com Mestre Raymond: quando Claire descobre que o que ela havia ingerido era cáscara-sagrada, foi tirar satisfação com Mestre Raymond. O boticário ao ser interrogado por Claire já sabia que o “veneno” tinha sido destinado a ela, no episódio ele aparenta não saber. Raymond havia vendido a cáscara-sagrada apenas a dois empregados, sabendo apenas que um deles era da Viscondessa de Rambeau, a origem do outro era desconhecida (no episódio apenas uma venda é mencionada). No capítulo dezesseis, o Mestre realmente leva Claire a uma sala secreta, como no episódio, onde ele dá a ela de presente uma pedra branca que muda de cor na presença de veneno.
- O caso entre Louise e Charles e o pedido de aborto: o caso entre Louise e o jovem pretendente ao trono já era de conhecimento de Jamie e Claire desde o capítulo sete (Audiência Real) pelos boatos que Claire escutou. No episódio quatro, o caso é descoberto por Claire quando Louise afirma que tem um amante, mas não diz quem ele é, afirma apenas que está grávida e pede ajuda a Claire para realizar um aborto. Na série de TV, só é descoberto que o amante de Louise é Charles graças à cena em que ele invade a casa de Jamie e Claire, tendo sido mordido pela macaca de Louise. No livro, no capítulo sete, já é conhecido que Louise tem um caso com Charles e quando os Frasers viram amigos deles, com o tempo, Charles e Louise passam a confidenciar seus segredos de amor a eles. O pedido de aborto ocorre no livro no capítulo treze. O diálogo que ocorre em tela é bem parecido com o do livro, tendo sido parcialmente extraído de lá. A criança já era de conhecimento de Charles (assim não foi uma surpresa para ele no jantar como ocorreu no episódio) e esse havia sido motivo de briga entre eles.
- As marcas de mordidas: no capítulo dezessete (Possessão), Jamie chega em casa com a aurora, após Claire estar extremamente preocupada com sua demora, achando que algo de ruim pudesse ter acontecido com ele. Como ele estava bem fedido, ele pede um banho e Claire vai ajudá-lo. Quando Claire o despiu, ela já tinha encontrado arranhões e mordidas nas coxas do marido, mas é durante a limpeza no banho que Claire se depara com “chupões” no pescoço de Jamie, e se inicia uma das minhas cenas favoritas deste livro. No episódio são as mordidas nas coxas que fazem Jamie explicar o “soixante-neuf”. No livro quando Claire vê os arranhões e mordidas nas pernas, Jamie inicia a tal explicação, afirmando que nada havia ocorrido, e Claire engole (o que não ocorreu no episódio já que a briga partiu daí) e ele explica que estava em um bordel (o que foi uma novidade para Claire, diferente da série em que ela sabia que ele passava as noites no bordel de Madame Elise). Quando durante o banho, ela encontra as marcas de chupões no pescoço, Claire não consegue acreditar que “absolutamente nada” tenha acontecido, então acontece realmente a discussão:
“O que quer que eu diga? — perguntou. — Se eu quis fazer sexo com elas? Sim, eu quis! O bastante para fazer minhas bolas doerem por não fazer. E o bastante para me fazer sentir enjoado com a ideia de tocar uma das vadias.
Afastou bruscamente os cabelos encharcados dos olhos, fitando-me furioso.
— É isso que queria saber? Está satisfeita agora?
— Na verdade, não — respondi. Meu rosto estava afogueado e encostei a face contra a vidraça gelada da janela, as mãos agarradas ao peitoril.
— Aquele que olha para uma mulher com desejo em seu coração já cometeu adultério com ela. É assim que você vê isso?
— É como você vê?
— Não — ele respondeu secamente. — Não vejo assim. E o que você faria se eu tivesse dormido com uma prostituta, Sassenach? Me dava um tapa na cara? Me proibiria de entrar em seu quarto? Se afastaria da minha cama?”.
“É... difícil de explicar. É... é como... acho que é como se todo mundo tivesse um pequeno lugar no íntimo, talvez um lugar particular que guardasse para si mesmo. É como uma pequena fortaleza, onde vive a sua parte mais pessoal... talvez seja a sua alma, talvez apenas aquela parte que faz de você quem você é e ninguém mais. — Sua língua sondou o lábio inchado inconscientemente enquanto pensava.
- Você não mostra a ninguém essa parte de você, normalmente, a menos às vezes para alguém que você ame muito. — A mão relaxou, envolvendo meu joelho. Os olhos de Jamie fecharam-se outra vez, as pálpebras cerradas contra a luz.
- Agora, é como... como se minha fortaleza tivesse voado pelos ares com pólvora. Não resta mais nada, a não ser cinzas e uma viga fumegante do telhado, e o ser pequeno e vulnerável que viveu ali um dia está desprotegido a céu aberto, choramingando de medo, tentando esconder-se sob uma lâmina de capim ou um pedacinho de folha, mas... mas... sem muito sucesso. - A voz embargada, virou a cabeça de modo que seu rosto ficasse escondido em minha saia. Impotente, não pude fazer mais nada além de afagar seus cabelos.”
(...)
“Jamie voltou a falar, arrancando-me de meus pensamentos.
- Sassenach?
- Sim? - Lembra-se da fortaleza de que lhe falei, a que tenho dentro de mim?
- Lembro. Sorriu sem abrir os olhos e estendeu a mão para mim.
- Bem, ao menos tenho uma estrutura na qual me apoiar. E um teto para me guardar da chuva.”
- A cena de amor: o “crème de la crème” do episódio, como dizem os franceses, foi a noite de amor de Jamie e Claire, sua completa reconexão física e emocional ao “clair de lune”. O modo como ela foi feita foi diferente do que ocorre no livro em sequência a briga relacionada às marcas de mordida/chupões do capítulo dezessete. Em essência porque no livro a cena de sexo não aparece, mas sabemos que ela acontecerá pelo anúncio de Jamie. O modo como ela foi construída na série me lembrou de um sonho que Jamie tem quando está preso em Ardsmuir no livro O Resgate no Mar, capítulo onze (O Gambito Torremolinos):
“Ele sonhou com Claire naquela noite. Ela estava em seus braços, relaxada e perfumada. Ela estava grávida; seu ventre redondo e liso como um melão, os seios voluptuosos e cheios, os mamilos escuros como o vinho, fazendo-o ansiar para prová-los.
(...)
Em seguida, seu seio pressionou-se contra a sua boca e ele o tomou ansiosamente, puxando seu corpo para bem junto ao seu enquanto a sugava. Seu leite era doce e quente, com um leve sabor de prata, como o sangue de um cervo.
(...)
Lançou os braços ao seu redor, abraçando-a, ela o segurou com força enquanto ele arremessava-se e estremecia, os cabelos dela em seu rosto, as mãos dela em seus cabelos e a criança entre eles, sem saber onde qualquer um dos três começava ou terminava.”
- A invasão na casa dos Frasers pelo príncipe Charles: Isso ocorre ainda no capitulo onze, como já dito logo após a cena da escolha de nomes de bebês. Charles entra no quarto dos Frasers fugindo da casa de Louise após o marido dela ter retornado mais cedo para casa. Eles haviam discutido e ele não queria continuar lá, mas também não podia sair pela porta com o marido dela presente. Assim ele vai fugindo pelos telhados até encontrar a casa de seu amigo James, que o abriga e onde Claire trata de sua mão que havia sido mordida pelo bichinho de estimação de Louise.
- O estupro de Mary e o jantar para o Duque: a cena em que ocorre o estupro de Mary e o ataque a ela e Claire é proveniente do capítulo dezoito. Ocorre a explosão que leva Claire a se demorar no Hôpital des Anges, local em que já estava acompanhada de Mary. Claire pede Fergus para avisar a Jamie que ela voltará tarde e o menino retorna mais tarde para buscá-las com Murtagh. Como não havia mais nenhuma carruagem próxima à rua, eles foram andando até outra rua em busca de transporte. Nesse caminhar, foram atacados por uma gangue de estupradores que inutilizaram Murtagh, mas Fergus foi capaz de fugir para chamar Jamie. Nesse ínterim, Mary foi estuprada, mas os homens fogem de Claire quando a reconhecem como “La Dame Blanche”, então de repente Alex Randall aparece para ajudar e em seguida, Jamie. Mary e Claire voltam acompanhadas de Alex, Fergus e Murtagh para casa, onde haveria o jantar dedicado ao Duque de Sandrigham. No episódio, apenas Murtagh acompanhava as moças, e as leva para casa após o estupro de Mary, Jamie as encontra no fundo da casa e foi seguido por Alex, onde é informado sobre o ataque. O modo como o estupro de Mary foi feito na série de TV foi tão real, que me deixou angustiada. Os gritos de Mary (Rosie Day) chegaram a me ferir com o horror dos sentimentos que transmitiam. Não deve ter sido uma cena fácil de fazer, e a atriz mostrou uma maestria na execução, como se soubesse em que ponto tocar para que o telespectador captasse a dor de Mary. Assim como no livro, durante o episódio, Mary é colocada para descansar sobre a vigília de Alex, enquanto Claire e Jamie vão interpretar seus papéis de bons anfitriões, mas quando Mary acorda e Alex corre atrás dela o escândalo que eles queriam prevenir ocorre, e para os espectadores presentes no jantar parecia que Alex a havia atacado.
Ótima análise, como sempre!!! Se Diana te tivesse como assessora nunca mais ia esquecer o que tivesse escrito! :D
ResponderExcluirÓtima análise, e tb acho q a ceno do estupro foi mto bem feita, deu pra sentir a dor da Mary, a atriz está de parabéns!
ResponderExcluirAmei como você fez um paralelo entre o livro e a série, acho que não sou apenas eu que me incomodo com as distorções entre ambos...
ResponderExcluirQue bom que estão gostando!
ResponderExcluirParabéns! Sua análise continua perfeita! Concordo com tudo!
ResponderExcluirBrigada :D
ExcluirParabéns Tuísa. Foi uma ótima idéia fazer as comparaçoes entre a série e o livro pois eu esqueci os detalhes que fazem toda a diferença na trama pois li os livros há muito tempo. E como sempre voce escreve muito bem, fazendo uma análise bem objetiva das situaçoes. Já pensou em ser escritora?
ResponderExcluirMuito obrigada! Já pensei sim em ser escritora só me faltam as ideias e o tempo kkkkk
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