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19 de out. de 2020

Lançamento! Enfim chegou o oitavo livro da série ao Brasil!

 


O tão esperado oitavo livro da série Outlander, enfim chegou ao Brasil pela editora Arqueiro. Intitulado Outlander: Escrito Com O Sangue Do Meu Coração continua as contar a bela história de Claire e Jamie Fraser. Leia a sinopse do livro a seguir:



UMA HISTÓRIA SOBRE AMOR


Junho de 1778. Perseguido pelas tropas de George Washington, o exército britânico está se retirando da Filadélfia. Pela primeira vez, os rebeldes têm a esperança de vencer. Mas, para Claire Fraser e sua família, há questões mais urgentes que uma revolução.

Jamie voltou dos mortos exigindo saber por que ela se casou com seu melhor amigo, lorde John Grey. Ao mesmo tempo, ele precisa enfrentar William Ransom, que está furioso porque acabou de descobrir que é seu filho ilegítimo e foi enganado por anos.

Enquanto Claire tenta impedir que seus maridos se matem, Brianna lida com os próprios problemas no século XX. Seu marido, Roger, foi para o passado em busca do filho raptado, mas na verdade o sequestrador está no presente, ameaçando a vida de sua família…

Escrito com o sangue do meu coração é mais um capítulo da histórica saga de Diana Gabaldon, que une com maestria a realidade crua da guerra, o viés fantástico da viagem no tempo e os dramas familiares em um romance viciante e delicioso.

O oitavo livro da série já esta em pré-venda na Amazon. Os primeiros compradores ganham de brinde um marcador de páginas especial. Clique aqui ou na imagem abaixo e garanta seu exemplar. 




15 de mai. de 2020

O que esperar da 6ª temporada de Outlander de acordo com os livros


De todas as temporadas de Outlander, a quinta temporada parece ter feito as mudanças mais significativas de livro para TV até agora. Isso não é uma novidade! As adaptações devem ser exatamente isso: baseadas no material de origem, mas não completamente ligado a ele, especialmente se algo faz mais ou menos sentido narrativamente na televisão do que em um romance. Eles são mídias muito diferentes, afinal!


O artigo abaixo contém spoilers dos livros.


Com a quinta temporada, que foi baseada principalmente no quinto livro de Diana Gabaldon na série Outlander, mergulhando no sexto livro, Um Sopro de Neve e Cinzas, com algumas histórias importantes, o trabalho de prever o que poderia fazer o salto da página para a tela na sexta temporada fica um pouco mais difícil. Isso é uma coisa boa! A série de TV deve ser capaz de surpreender as pessoas, independentemente de sua familiaridade com os livros. De qualquer forma, Um Sopro de Neve e Cinzas é, à moda Outlander, tão incrivelmente longa (a versão em brochura tem mais de 1.000 páginas!) que há muitas histórias para escolher. Aqui, alguns das principais que podem aparecer na tela na sexta temporada.

2 de set. de 2019

Resenha: Ecos do futuro





Pode conter spoilers


“- O que afirmo é que realmente o amo. E se você caça à noite, você voltará para casa.
(...)
-E dormirei aos seus pés.”




Interessantemente, “Um sopro de neve e cinzas” é finalizado em 1777, enquanto “Ecos” inicia-se um ano antes, em 1776, destacando a não-linearidade comum nessa série, afinal o tempo e a História são dois grandes protagonistas e nem um dos dois são estritamente retos. A revolução Americana havia começado e os Fraser, de certa forma, estavam divididos entre os dois polos, uma vez que William, mesmo não carregando o sobrenome, não deixava de ser um. O sétimo romance retorna ao paralelismo temporal dos primeiros, revezando a história de um passado e futuro (1980), que justificam o nome que recebeu em português.




     
Capas da edições americanas 



Para mim, os verdadeiros ecos seriam o sistema de troca de cartas que foi estabelecido entre as famílias Fraser e Mackenzie que “desafia” o tempo, entretanto elas seriam melhor denominadas de “ecos do passado” uma vez que eram via de mão única, enviadas dos Fraser para seus filhos e netos no futuro, uma forma de matar a saudade de Jemmy, Bree e Roger e fazer com que Mandy conhecesse um pouco dos avós que eles acreditavam que a menina nunca veria. O seguimento de história dos Mackenzie tem uma abertura lenta por mostrar principalmente seu estabelecimento no novo tempo, sua rotina e as dificuldades de Jemmy de adaptação, no entanto, quando os conflitos surgem, iniciando-se em especial com o novo emprego de Brianna e as dificuldades que ela enfrenta por ser uma mulher no meio de tantos homens, ele torna-se tão empolgante quanto os acontecimentos finais do enredo dos Fraser.





Capa de um dos tomos da primeira edição em português no Brasil publicada em dois volumes pela editora Rocco




No século XVIII, os Fraser se preparam para retornar à Escócia a fim de recuperar a máquina de impressão de Jamie. Como jovem Ian havia cometido um assassinato em Fraser’s Ridge, Jamie resolve cumprir a promessa que havia feito para a irmã anos antes e levar seu filho de volta para ela e ainda protege-lo de qualquer represália nas trezes colônias. Ainda na “América”, um homem chamado Percy Beauchamp/Wainwright (antigo conhecido de Lorde John e de quem o próprio Lorde tem suas suspeitas) está a procura de Fergus que pode ser um herdeiro de uma família rica, mas ninguém sabe ao certo se isso não pode trazer algum perigo para todos eles. Na ida para a Escócia, uma nova aventura no mar surge, assim como um sentimento de nostalgia em relação ao “Resgate no mar”.


Capa da atual edição em português publicada em volume único pela editora Arqueiro

Compre aqui: Ecos do futuro





Quem começa a ganhar bastante destaque nesse livro é William Hamson, filho ilegítimo de Jamie e enteado de Lorde John. Eu tenho a opinião de que ele é um personagem insuportável desde criança e a idade ainda não fez com que ele melhorasse – muito provavelmente resultado de ser um jovem rico e mimado criado para acreditar que poderia ter tudo- e os pontos de vista dele são no geral os que eu mais detesto, porém o seu enredo faz conexões importantes e instigantes com a história, em especial quando sua trama cruza com a dos Fraser. Além disso, eu tenho esperança que William amadureça ao longo da sua jornada com todas as verdades e novas realidades que ele precisará encarar. Talvez ele se torne alguém menos irritante. Lorde John também vai ganhando um papel cada vez maior nesse patamar da trama assim como vão sendo introduzidos outros membros de sua família de forma mais destacada, como seu irmão Hal, o qual havia feito pequenas participações em alguns dos livros anteriores – mas se você já leu os contos da série Outlander, pode estar muito bem familiarizado com ele nas aventuras de Lorde John e na história de como Hal e sua esposa Minnie se conheceram--  e sua sobrinha (filha de Hal), Dottie, além dos outros filhos de Hal que tendem a ir aparecendo ou tendo importância para o decorrer da história. Eu sou completamente apaixonada por Hal e Minnie e pela família deles como um todo, queria muito que Diana reservasse um espaço para outra novela ou conto mostrando mais sobre a dinâmica familiar deles, quando seus filhos eram crianças, ou mais detalhes do início do seu casamento, pois no conto “A fugitive green” (sem tradução para português ainda e incluso na Antologia de Outlander, “Seven stones to stand or fall) vemos apenas como Hal e Minnie se casaram. Outra aparição importante, porém tratada de forma bastante incidental no enredo é a de Denis Randall-Isaacs, o filho de Alex e Mary Randall, mas que historicamente todos acreditam ser de Black Jack.




As teorias que os personagens criam sobre as viagens do tempo passam a retornar a trama quando Roger encontra a notícia sobre o incêndio na casa dos Frasers- o qual ele já sabia não ter matado seu sogros através de uma de suas cartas- e a data está mudada (Para saber mais sobre a teoria gabaldon sobre viagem no tempo, leia: A teoria Gabaldon de viagem no tempo). A ideia de que eles podem sim mudar a história, em situações pequenas, na esfera individual, é reacendida.





O primeiro Fraser com quem William tem um forte relacionamento é Ian, não apenas o primo lhe salva a vida, mas eles se apaixonam pela mesma mulher, Rachel, e isso passará, mais à frente a causar discórdia entre os dois. O clima de guerra na América é muito forte, e como Jamie e Claire foram obrigados a parar no forte Ticonderoga pelo seu capitão, atrasando sua viagem para Escócia, eles participam durante uma parte grande do enredo dos preparativos das batalhas e dos acampamentos de guerra, trazendo um contexto parecido ao da segunda metade de A libélula no Âmbar. Não apenas o contexto, mas assuntos, que acreditávamos estar enterrados no segundo romance ressurgem e podem ameaçar os Frasers. Ao chegar a Lallybroch, Jamie, Claire e jovem Ian descobrem que Ian sênior está morrendo. Por mais que Jenny peça, não há nada que Claire possa fazer, e isso acaba por causar uma rachadura na amizade delas. Claire precisa voltar antecipadamente à América para socorrer Henri-Christian e assim o casal se separa mais uma vez. O reencontro deles é fantástico, principalmente por todos os desdobramentos relacionados ao fato de tanto Claire, quanto Lorde John acharem que Jamie tivesse falecido em um naufrágio.






Surpreendentemente, Roger encontra um viajante do tempo nos anos oitenta, alguém por quem ele não tem nenhum afeto após acontecimentos em livros anteriores e o desaparecimento de Jemmy causa uma grande reviravolta na vida dos Mackenzie.



O final do livro sete é encantador, sendo protagonizado por Ian e Rachel e tenho certeza que não há um único leitor da série que não torcesse para que Ian encontrasse sua paz e seu amor, após tanto sofrimento nesse ângulo da vida do rapaz. Diana escolheu como tema desse livro “Nexo”, e honestamente foi o tema mais vago de todos até agora, pois todos os protagonistas tendem a estar ligados em seus livros não apenas nesse.O  tema alternativo faz mais sentido para mim, o qual ela afirma ser “mortalidade”, mas também é algo presente em outros livros, porém não com tanta força. Talvez por acharem temporariamente que Jamie e Jenny haviam morrido, pelo falecimento de Ian sênior, por Claire precisar viajar sem o marido para ajudar a salvar a vida de Henri- Christien,  o ferimento de Rollo, o ataque a Ian e Rachel mais no final e etc..., além da presente guerra, realmente tem muitas cenas em que o coração fica na mão pensando se não iríamos perder algum dos personagens queridos, mas a noção de mortalidade também se faz muito presente nos livros anteriores.


Nessa edição, a autora nos presenteia com uma nota falando um pouco sobre a sua pesquisa e alguns pontos da história que ou são reais ou que foram adaptados de situações e pessoas que existiram. É um romance que conta com tudo que amamos de Outlander, e apesar de graças a Deusa dos bons leitores não terminar em suspense, ele contém problemas os quais não são completamente resolvidos que atraem o leitor para o próximo livro.




Por Tuísa Sampaio



REFERÊNCIAS:
GABALDON, Diana. Ecos do futuro. São Paulo: Arqueiro, 2019.
GABALDON, Diana. The Outlandish Companion. New York: Delacorte Press, 2015. V.2.



17 de jul. de 2019

É o fantasma de Jamie Fraser no primeiro episódio de Outlander?


É um mistério que não será resolvido até que o último livro da série de Diana Gabaldon seja publicado.

Cerca de 25 minutos do primeiro episódio de Outlander , Frank Randall é visto andando pela chuva quando se depara com uma figura espectral. O homem está olhando para uma janela de um quarto, onde Frank e sua esposa Claire estão hospedados. Claire pode ser vista lá, penteando o cabelo. Quando Frank se vira para confrontar o homem, ele se foi.

"O que foi? Viu um fantasma?", diz Claire quando o marido retorna à pousada.
"Não tenho certeza se não vi.", Frank responde.
"Encontro" de Jamie e Frank na série. STARZ/Netflix

De fato, Frank viu o fantasma do outro marido de sua esposa, um escocês do século XVIII chamado Jamie Fraser, a quem Claire conheceu depois que ela volta no tempo.

O encontro sobrenatural de Frank dificilmente é o único elemento de ficção científica da série (afinal, é uma história de viagem no tempo), mas ainda não foi totalmente explicado e, portanto, é muito discutido pelos fãs da série.

A autora Diana Gabaldon, que escreveu a série de livros sobre a qual o programa de TV Starz se baseia, confirmou que é o fantasma de Jamie que Frank viu, mas ela também afirmou repetidamente que Jamie não pode viajar no tempo. Ele simplesmente não tem essa capacidade genética, então, como Jamie vai até 1946 é um mistério.

Sam Heughan e Caitriona Balfe em gravações para a quinta temporada de Outlander. STARZ

Em uma entrevista ao Outlander Podcast em 2014 , Gabaldon também esclareceu a idade do fantasma de Jamie.

“Sam Heughan [o ator que interpreta Jamie Fraser na série de TV] me perguntou e eu não tinha pensado nisso antes, mas apenas respondi imediatamente. Você quer saber? ”Ela perguntou aos participantes do podcast. Naturalmente, eles responderam sim.
"Ele tem cerca de 25 anos", disse Gabaldon.

É uma resposta interessante. Se você está atualizado sobre a série, então sabe que Jamie não estará morto com 25 anos de idade. Na verdade, ele vive muito além disso, sendo assim a revelação de Gabaldon aqui, é claro, provocou inúmeras teorias na comunidade de Outlander.

Alguns acham que o espírito de Jamie (mas não seu corpo) viajou através do tempo para guiar Claire até ele; outros sugerem que Jamie teve uma experiência de quase morte após a Batalha de Culloden, e é por isso que seu fantasma tem 25 anos quando ele aparece para Frank. Mas os fãs terão que esperar até o último livro da série para esclarecer suas suspeitas.

"O fantasma é Jamie - mas como se encaixa na história, tudo será explicado - no último livro", diz Gabaldon na seção de perguntas frequentes do site .

Ela também revelou que a série Outlander provavelmente terá dez livros no total , e o nono, Go Tell the Bees That I Am Gone vai ser lançado em 2019. Nenhuma palavra ainda sobre quanto tempo devemos esperar pelo último livro.


Por enquanto, Gabaldon ofereceu uma intrigante - e enigmática - explicação do fantasma de Jamie e sua idade. Em um tweet de 2015, ela simplesmente escreveu: "Os fantasmas não existem em um lugar onde o tempo tenha significado".



Artigo original de Caroline Hallemann (Julho/19), traduzido por Outlander Brasil.

15 de jul. de 2019

Títulos do novo livro da série Outlander


O nono livro da série Outlander, GO TELL THE BEES THAT I AM GONE (aka BEES), ainda sem previsão de lançamento, já tem os títulos de seus capítulos definidos temporariamente pela autora. Diana Gabaldon, postou em seu blog o nome dos capítulos do novo livro. Veja a tradução do post de Diana a seguir, juntamente com o nome dos capítulos em inglês.


Escrever um livro (para mim) tem várias fases. Como muitos de vocês sabem (por ne ter ouvido falar ou lendo os livros da coleção THE OUTLANDISH COMPANION), eu escrevo (por um longo tempo) pequenos pedaços e cenas desconexas. Eventualmente, eles começam a se unir para formar pedaços maiores, e nos últimos estágios, estes "pedaços" começam a se alinhar em uma espécie de linha temporal (composta de eventos históricos que eu quero usar e eventos pessoais que acontecem com um ou outro dos personagens), e - na plenitude do tempo, eu começo a reunir partes e cenas relacionadas, a escrever pontes (onde é necessário conectar as peças, estabelecer um horário ou local, ou fornecer um rápido resumo do que está acontecendo e que eu não queira dizer mostrar diretamente), e ...geralmente, surge algo vagamente parecido com um livro de romance.

Eu começo a ver a forma dos capítulos e a colocá-los - gradualmente - em razoáveis sequências e formas ​​(embora os capítulos se movimentem por algum tempo antes de se estabelecerem no último lugar da história).

É onde eu estou agora, na parte de escrever / montar o livro. Ainda estou escrevendo (naturalmente ...), mas uma boa parte do trabalho diário agora inclui a junção de peças e a formação de capítulos, seções, etc.

Então, para o seu entretenimento, aqui está a lista de capítulos dos títulos da Seção Um de GO TELL THE BEES THAT I AM GONE. (PS: Os títulos dos capítulos às vezes mudam - se eu penso em algo melhor, o que eu faço o tempo todo - então isso não é de forma alguma uma lista final - mas esta Seção está completamente montada. Existe muito mais do livro, mas eu não vou mostrar tudo de uma vez ...)

Divirta-se!


SECTION I: A Swarm of Bees in the Carcass of a Lion

CHAPTER 1: The MacKenzies are Here!

CHAPTER 2: A Blue Wine Day

CHAPTER 3: Meditations on a Hyoid

CHAPTER 4: Home is the Hunter, Home from the Hill

CHAPTER 5: Dead or Alive

CHAPTER 6: Visitations

CHAPTER 7: Animal Nursery Tales
.
SECTION II: No Law West of the Pecos

CHAPTER 8: Lightning

CHAPTER 9: Erstwhile Companions

CHAPTER 10: What Is Not Good for the Swarm Is Not Good for the Bee (Marcus Aurelius)

CHAPTER 11: Mon Cher Petit Ami

CHAPTER 12: The Hound of Heaven

CHAPTER 13: Reading by Firelight

CHAPTER 14: Duck, Duck, Goose


Texto original extraído do site Diana Gabaldon, traduzido pela equipe Outlander Brasil.

14 de mai. de 2019

Resenha: Lorde John e a Peste de Zumbis


(Uma novela da série Outlander presente na antologia de fantasia urbana, Ruas Estranhas)




“Tendo encontrado bruxas alemãs e fantasmas indianos, e passado um ano ou dois nas Highlands escocesas, ele conhecia superstições pitorescas melhor que a maioria.” - Lorde John e a peste de zumbis


Cronologicamente dentro da série Outlander, “Lorde John e a peste de zumbis” se passa entre “O resgate no mar” e “Os tambores do outono”, no ano de 1761, tendo como personagem principal Lorde John Grey – como fica óbvio pelo título. Diana criou uma série de romances e novelas incluídos no gênero de mistério histórico em que Lorde John, o inicialmente carcereiro e diretor da prisão de Ardsmuir e mais tarde melhor amigo de Jamie Fraser é o personagem principal. Jamie também participa de algumas das histórias de Lorde John como em “The scottish prisioner” (“O prisioneiro escocês” em tradução livre) e “Lord John and the brotherhood of the blade” (“Lorde John e a irmandade da espada” em tradução livre). 







O que comumente nos referimos como “série de Lorde John” ( a meu ver uma série spin-off), de acordo com a autora faz parte da série Outlander. “Lorde John e a peste de Zumbis” não é o primeiro livro dentre essas histórias de mistério estreladas por John em termos cronológicos (no final desse texto, vou deixar a disposição a ordem deles), mas até agora é o único a ser traduzido para o português. Como cada aventura tende a ser relativamente independente então, no geral, é possível compreender quando lidos fora de sequência. Porém, o leitor deve ficar atento para as datas e acontecimentos, que por vezes podem ser mencionados em outros dos livros. 



                              Capa da antologia Ruas Estranhas, onde está incluída a novela "Lorde John e a peste de zumbis"
                                                                      Link para compra- amazon: Ruas Estranhas


Em “Lorde John e a peste de zumbis”, Grey é chamado à Jamaica pelo governador para liderar um contra-ataque e tentar pôr fim a uma rebelião escrava. A história que poderia se tratar de uma aventura aleatória de Lorde John também cita o assassinato do Sr. Abernathy, o último marido de Geillis Duncan (que vive sob a identidade de sra. Abernathy em “O Resgate no Mar”) . Apesar de Jamie não aparecer nesta narrativa, os pensamentos de John de vez em quando o levam a ele. 



“Seria possível chamar de amante um homem que nunca tocava você – que se recolhia com a simples ideia de tocá-lo? Não. Mas ao mesmo tempo, como chamar um homem cuja mente tocava a sua, cuja amizade constrangida era um presente, cujo caráter, cuja própria existência, ajudava a definir a sua própria?” 



Durante sua investigação, John dá de cara com o que os nativos chamavam de zumbis, “mortos-vivos”, ou pelo menos era isso que diziam, e o processo para descobrir e entender o que estava ocorrendo na ilha foi ficando mais complexo e mais sombrio. Haveria elementos sobrenaturais na região e estariam eles ligados às revoltas dos escravos? Há todo um misticismo relacionado às práticas religiosas das tribos locais que causa o receio e as dúvidas de Lorde John e o desconhecimento de muito dessa cultura ainda hoje cria “medo” simplesmente por ser algo estranho às crenças hegemônicas. É a astúcia, a coragem e a disposição para não duvidar de nada de John Grey que o permitem solucionar o caso e cumprir o papel que a coroa britânica lhe designou. 



                                                                                                         Capa do e-ebook em inglês 
                                                             Link para compra- amazon- A plague of zombies


Para mim, essa é uma das histórias de John mais fracas, os outros casos em que ele é envolvido tem uma complexidade tanto no quesito mistério, quanto na emoção, maior. Assim, como são mais interessantes. Porém, rever Geillis acrescenta mais do quanto ela pode estar envolvida com o assassinato desse marido (como com o dos anteriores) e seu caráter místico e malicioso. Essa não é a única novela em que a personagem aparece. Ela também tem seus momentos em “The space between” (ainda sem publicação em português), no qual ela é citada no enredo através de um pseudônimo e consequentemente, pode-se descobrir um pouco mais do que ela fez no salto de vinte anos em que ela e Claire se desencontraram. 



Àqueles que não leram nenhum aventura solo de Lorde John, essa é uma oportunidade de conhecer Tom, seu valete, uma espécie de criado pessoal com quem John estabelece uma relação de cumplicidade bastante gostosa de se ler (Tom aparece em todas as histórias de Lorde John menos em “Lord John and the Hellfire club”). Por mais que Lorde John seja um personagem querido, sua trajetória nessa história era uma com a qual eu torcia contra. Queria a solução do caso, mas que os “escravos” saíssem vitoriosos em relação aos colonos. É uma novela que destaca a rebeldia e a resistência do povo negro quando diante daqueles que os roubaram a liberdade, o que por vezes nossa história tradicional esconde, mostrando uma certa subserviência e aceitação. Na Jamaica, para eles, era até mais fácil fugir. Era seu lar, eles conheciam a terra o suficiente para encontrar esconderijo, mas não deveriam precisar se esconder e viver como fugitivos em seu próprio país. Como Claire falou uma vez em relação aos ingleses na Escócia (na primeira temporada- ep 06) “a terra é deles, nós que estamos a ocupando”, também vale para os ingleses na Jamaica e em todas as suas colônias, assim como para todos os europeus que usurparam pessoas e terras, mexeram com divisas, suprimiram religiões e identidades em nome do lucro e de suas crenças vistas como verdades absolutas. 



Para mim, todas as aventuras de Lorde John são leituras muito prazerosas, umas mais e outras menos, assim como os contos e novelas da série Outlander protagonizados por outros personagens, que suprem lacunas deixadas nos romances principais. Abaixo segue a ordem cronológica das histórias de Lorde John: 



- Lord John and the Hellfire Club- 1756 - conto na coletânea de histórias de Lorde John “Lord John and the hand of devils- por enquanto sem publicação em português; 

-Lord John and the private Matter -1757- (um romance- por enquanto sem publicação em português); 

-Lord John and the succubus – 1757- (novela na coletânea “Lord John and the hand of devils”)- sem publicação em português ainda; 

-Lord John and the brotherhood of the blade- 1758 - romance- sem publicação em português por enquanto; 

-Lord John and the Haunted soldier – 1758 - (novela publicada na coletânea Lord John and the hand of devils); 

-The custom of the army – 1759- (novela originalmente publicada na antologia Warriors, volume 1- também publicado individualmente em e-book, mais tarde foi incluso na antologia de Outlander “Seven Stones to Stand or fall”). Ainda não foi lançado em português; 

- The scottish prisioner – 1760- (romance)- sem publicação em português por enquanto; 

- Lord John and the plague of zombies- 1761- na coletânea Down these strange streets e individualmente em e-book, além de posteriormente incluída na coletânea de Outlander “Seven Stones to Stand or fall”, que ainda não foi publicada em português. Como a primeira antologia citada foi publicada em português com o título de “Ruas estranhas”, a novela foi traduzida para “Lorde John e a peste de zumbis”; 

- Besieged – 1762- novela publicada na antologia de Outlander “Seven Stones to Stand of Fall”, sem publicação em português por enquanto.


Por Tuísa Sampaio 

6 de mar. de 2019

Resenha: Virgens


(Uma novela da série Outlander presente na antologia Mulheres Perigosas)

“Se você vai para o inferno, eu vou também. Deus sabe que você não consegue se virar sozinho” (tradução livre) Virgens

“Virgens”, cronologicamente na série, se passa em 1740, três anos antes dos eventos do primeiro livro de Outlander, e narra uma aventura de Jamie e Ian na França, enquanto mercenários, logo após a primeira fuga de Jamie de Fort William. Ian e Jamie, por mais que já tivessem visto crueldade, principalmente Jamie após ter sido chicoteado e presenciado o AVC do pai, que o levara a morte, ainda eram inocentes. Virgens não apenas no sentido bíblico, mas como também nunca haviam tirado uma vida. De certa forma, é possível encontrar em suas conversas conteúdos mais infantilizados, ingênuos por melhor dizer, típicos de adolescentes que não conhecem mulheres e estão numa fase de curiosidade, e não se restringindo apenas a elas, mas também carregam um olhar ignorante sobre temas dos quais nunca experimentaram.





Capa da edição americana da Antologia Dangerous Women em volume único. A antologia também foi publicada em três volumes, estando "Virgens" no volume II. 





Ao encontrar com Jamie, que havia sido enviado para França por Murtagh, com o intuito de se esconder dos ingleses, Ian se assusta ao ver o sangue nas costas do amigo. Jamie conta sua história e une-se ao grupo de mercenários do qual Ian já fazia parte. Os dois amigos e sua gangue são responsáveis por levar uma jovem judia e seu dote ao encontro do seu futuro marido. O nome da antologia não é “Mulheres perigosas” por acaso. Rebekah, a noiva em questão, vai provar ser mais que um rostinho bonito e os meninos tem que usar suas cabeças para conter os danos que ela pode causar. O mais interessante dessa novela é enxergar a amizade deles dois, participar de suas aventuras, algo que por mais que esteja presente nos romances da série Outlander não é posto em foco. O Ian pai, marido e que havia sido mutilado na guerra não é o mesmo Ian brincalhão e com toques de ingenuidade que protagoniza essa história; da mesma forma, que o Jamie de Claire não é o mesmo adolescente solteirão, em luto e despedaçado pelo exílio que é descrito em “Virgens”. Essa novela, assim, traz um novo olhar à essência desses personagens. Porém, a versão imatura desses dois é bastante voltada para o próprio umbigo e para amizade que compartilham, que me peguei torcendo por Rebekah, principalmente por enxergar algo ao qual eles eram completamente cegos: a opressão que ela sofria por ser mulher. E nesse quesito, Claire permite que Jamie cresça bastante, porque ao longo da série, ela vai mostrando ao marido que uma mulher não é meramente a marionete de seus parentes.




Capa do ebook (edição em inglês)




Há uma cena colocada no enredo sobre um estupro que Jamie presenciou e a qual ele comenta com Claire em Outlander e que me incomodou muito. Eu acredito que a autora inseriu a violência mais para mostrar o choque dos rapazes em assistir a um ato sexual pela primeira vez do que qualquer outra coisa. Eu sei que a violência sexual era extremamente banalizada na época e muito mais comum do que é hoje, porém Diana usa esse recurso em excesso. Ademais, não achei que a construção em si da cena tenha feito muito pelo caráter de Ian e Jamie. A passividade deles me irritou muito, assim como um comentário machista – que deveria ser bastante comum à época, afinal até hoje acontece. Pode ser que a intenção tenha sido fazer uma crítica à banalização da violência sexual, pode ter sido para mostrar a “inocência” sexual de Ian e Jamie e/ou a função dela pode ter sido realmente incomodar (assim como foi a construção de uma cena semelhante da quarta temporada) e mostrar o quão sozinha e vulnerável está uma mulher em uma situação de estupro mesmo cercada de testemunhas. A interpretação desse trecho pode ser realizada de vários ângulos, mas uma coisa é certa: Diana usa excessivamente esse tema em suas histórias.




Edição americana de "Virgins" em capa dura 




Para quem não está acostumado a ouvir a expressão novela em referência a um texto, ela realmente não é tão usual em português, em que é bastante comum usar o termo conto tanto para o conto propriamente dito, como para novelas. Entretanto, não me sinto confortável em fugir da terminologia adequada, principalmente quando também é assim denominada pela autora e de classificar uma narrativa de mais de oitenta páginas como conto.  A novela é uma narração mais comprida e complexa que o conto, enquanto é mais simples e mais curta que o romance.





Capa da Antologia de Outlander,  Seven Stones to Stand or Fall (edição em inglês)




Jamie e Ian tem uma amizade poderosa, cunhada em cada aventura que viveram juntos e mais à frente nos laços familiares que irão os fortalecer, mas na série de Outlander percebe-se que os traumas que cada um passou entrega a eles uma solidão que o outro não compreende. Essa novela vem para mostrar o início da perda da inocência deles e uma faísca de como eles vão se moldando em quem irão se tornar. Em a Viajante do tempo, o leitor vê a amizade deles pelos olhos de Claire e no decorrer da série mesmo com a alternância de narração, só é possível ver o relacionamento de Ian e Jamie acompanhado das dores que cada um carrega. Por mais bobinhos que eles possam parecer em seus anos de adolescentes, “Virgens” permite enxergar uma imagem menos borrada dos caminhos que Jamie poderia ter seguido ou quem ele poderia ter se tornado se não fosse Claire e os sofrimentos que passou.




Capa da edição brasileira de "Mulheres Perigosas", antologia que contém "Virgens"





Em português, por enquanto, essa novela só pode ser encontrada na antologia Mulheres Perigosas publicada pela Editora Leya e organizada por George R.R Martin e Gardner Dozois. Em inglês, é possível comprar o ebook apenas da novela “Virgins”, assim como sua versão em capa dura, ou adquirir a antologia “Seven Stones to stand or fall” composta de contos e novelas escritos por Diana Gabaldon, todos do universo Outlander, na qual “Virgins” também está presente.






Por Tuísa Sampaio

20 de fev. de 2019

Resenha: Um sopro de neve e cinzas

 
Contém Spoilers


Claire e Jamie. Brianna e Roger. Jovem Ian e Rollo. As aventuras dessa família e de vários outros personagens continuam nesse sexto romance da série Outlander, Um Sopro de Neve e Cinzas (título original: A Breath of snow and ashes). O ano inicial é de 1773, o livro, dividido em um prólogo, doze partes e dois epílogos, tem como abertura o momento em que Jovem Ian escuta um grupo de homens passando próximo ao local onde estava na floresta e precisa se esconder, levando-o a ter uma conversa com Deus, e o encontro dos Frasers com uma cabana queimada cheia de cadáveres em algum lugar da colina. Quando retornam à sua casa, uma reunião com o Major Macdonald os aguarda, trazendo notícias de novos colonos escoceses e um convite para Jamie tornar-se um agente entre os índios.

Como em todo romance dessa série, novos personagens surgem e dentre eles está Bobby Higgins, enviado com uma carta para Jamie por Lorde John, Bobby havia sido marcado como assassino no rosto, condenação que Lorde John considerava injusta. Infelizmente, Bobby é ameaçado pelos Browns e seu comitê de segurança que não acreditam em sua inocência e não querem um homicida nas redondezas, ansiosos por mostrar efetividade em suas ações. A decisão de Jamie de tornar-se um agente indigenista, então, apesar dos possíveis riscos, ocorre justamente para impedir que Richard Brown o seja. Tentando descobrir mais sobre a guerra que está por vir, Jamie conversa com Roger sobre o que ele sabe que vai acontecer, o que o leva a lembrar-se de uma vidente que conhecera em Paris e que havia lhe dito que ele iria morrer nove vezes antes de ir para o túmulo. Essa previsão é uma quem vem levantando discussões nos fóruns de fãs de quais seriam as mortes de Jamie e em qual vida ele estaria. Como já vimos e também como Claire conclui, Jamie Fraser não é um homem fácil de se matar.


Capa atual da edição americana 



Dentre as trocas de correspondências entre Lorde John e os Fraser, Brianna recebe fósforo, uma substância que havia requisitado ao amigo, para que pudesse fabricar palitos de fósforo, facilitando assim o processo de acender qualquer fogo que fosse necessário. Um dos pontos que eu gosto muito em Brianna é esse seu lado “inventora/construtora”. Ela consegue facilmente trazer seus conhecimentos de química e física do século XX, além de sua habilidade com desenho para melhorar a sua vida e de toda a sua família, mesmo que isso a faça ser vista como “estranha” pelas pessoas das redondezas. Um exemplo, além dos fósforos, é sua tentativa de fazer Robin McGillivray montar as armas que ela havia desenhado, conhecimento incomum até para meninas de sua época. Ela mostra seu lado progressista com orgulho e (na maioria das vezes) não dá ouvido aos comentários maldosos. Obviamente, isso vem um pouco de Claire, entretanto, as “inovações” trazidas por Claire ao século XVIII, são no geral, relacionadas à medicina, como a sua produção de penicilina que se inicia em Tambores do Outono e as tentativas da criação de éter em Um sopro de Neve e Cinzas para poder adormecer os pacientes em quem precisa realizar cirurgias, como a de apendicite que ela faz em Aidan McCallum. Também não é possível deixar de lado a influência que o conhecimento de Frank sobre a volta de Claire ao passado fez com que ele ensinasse coisas incomuns à sua filha para uma mocinha da cidade dos anos 60- com receio que ela também viajasse- como andar a cavalo e atirar. Brianna é uma mulher bastante independente, assim como sua mãe e isso ao longo desse livro, acaba influenciando seu casamento com Roger, que não é tão moderno quanto Jamie, no quesito adaptar-se à individualidade de sua esposa. Eu entendo que a diferença maior é que para Brianna foi muito mais fácil encaixar-se no dia a dia de Fraser’s Ridge do que para ele, e isso faz com que ele se sinta inútil diante dela, enquanto Jamie nunca enfrentou esse problema. O desejo de Roger de tornar-se ministro finda por lhe dar um propósito que facilita a comunicação entre o casal, pois permite a Roger encontrar sua própria independência e sentir-se mais útil dentro de sua comunidade. Brianna mostra à lealdade que tem ao marido estando pronta para apoiá-lo em sua escolha de carreira e se dispondo a ajudar no que for preciso para que ele seja bem-sucedido.


Capa da primeira edição a ser publicada em português no Brasil pela editora Rocco (dividida em 2 tomos)



Esse é um livro que mostra, assim como a Cruz de Fogo, muito da comunidade dos Frasers, entretanto com mais ação e sem a monotonia do romance anterior. Nele, Claire vai conseguir uma nova aprendiz e assistente em Malva Christie- com quem cria um carinho, para depois ser traída de uma forma covarde, levantando dúvidas acerca da lealdade de Jamie - e um paciente extremamente teimoso em seu pai- que se revelará leal à Claire e aos sentimentos que havia escondido dela, em busca de salvá-la de uma sentença injusta por um crime que a Sra. Fraser não havia cometido. Três dos acontecimentos principais do enredo cada vez mais intricado são o sequestro de Claire por uma gangue - onde ela finda por encontrar outro viajante do tempo-mais à frente; o de Brianna, por Stephen Bonnet e o momento em que toda a família aguarda o suposto incêndio que deveria matar Jamie e Claire, mas que não ocorre na data prevista no jornal, e sim tempos depois, tendo todos os presentes –Jamie e Claire inclusive- saído com vida, mas resultando na destruição de sua casa. Jamie, ademais, tem que lidar com a decisão de virar um rebelde, pois ele sabe que a guerra será ganha por eles, mas qual seria o momento certo para se declarar? E a descoberta da verdadeira paternidade de Jemmy, além de uma nova gestação de Brianna estão entre os pontos de destaque dos enredos dos Frasers e Mackenzies.

O crescente companheirismo entre Jamie e Roger também chama atenção. Quando se conhecem em Os Tambores do Outono, a inimizade causada pelo mal-entendido da identidade de Roger faz com que mesmo com devidas emendas realizadas, eles dois não se deem lá muito bem. Ao longo dos livros seguintes, eles vão gradativamente tornando-se parceiros e confidentes. Em Um sopro de Neve e Cinzas, ambos aconselham-se quando necessário e uma relação de pai e filho vai se materializando em suas devidas proporções, mais ligada ainda quando se unem para resgatar Brianna, o laço de lealdade que os une.

O nascimento do quarto filho de Fergus e Marsali traz momentos de conflito dentro da comunidade, sendo ele um anão, em um assentamento de pessoas interioranas e supersticiosas, medo e preconceito afloram. E assim cada vez mais os Frasers se ligam para proteger uns aos outros. Como em todo livro dessa série, Diana escolheu uma palavra para ser tema e em Um Sopro de Neve e Cinzas foi lealdade. Sobrevivência seria um sub-tema que ela quase usou como definição, mas a lealdade ainda estava acima, por isso que ao longo do texto venho destacando esses dois pontos. Acredito que ambos estejam fortemente interligados pelo livro. O pequeno Henri-Christian, filho caçula de Fergus e Marsali tem a lealdade de seus pais e outros membros de sua família, mas precisa lutar para sobreviver dentro de Fraser’s Ridge. Fergus sente que não pode ser o homem que eles precisam, em uma área onde o modo de vida é a agricultura e ele tem apenas uma mão, o desespero então o domina. A saída para a sobrevivência da família será um trabalho na cidade, onde há menos preconceito e Fergus poderá realizar o ofício de tipógrafo.

Lizzie é uma personagem com um desenrolar de acontecimentos peculiares neste livro. E quando digo que o romance fica cada vez mais intricado (e a meu ver isso vem acontecendo ao longo dos livros, principalmente a partir de Tambores do Outono) é porque mesmo com a maioria das cenas sendo de Jamie e Claire ou relacionadas a eles, tramas paralelas fortes surgem. Em Um Sopro de Neve e Cinzas, além da história de Roger e Brianna que caminha quase em pé de igualdade com Jamie e Claire, são muito presentes em determinados momentos da trama, a de Fergus e Marsali, Ian e a luta para superar seu passado com os Mohawks e o romance de Lizzie com os gêmeos Beardsleys, que choca Fraser’s ridge, pelo conceito de poliamor não ser um conhecido no século XVIII.

O nascimento da filha de Roger e Brianna, Mandy, faz com que eles tenham que tomar a decisão de voltar ao século XX, uma vez que a menina precisa de uma cirurgia cardíaca para sobreviver, a qual Claire não tinha condições de realizar no tempo em que estavam e com os recursos que tinham. Com a partida dos Mackenzies e a destruição da casa dos Frasers, Claire e Jamie decidem voltar à Escócia para trazer a prensa de Jamie para as treze Colônias e entrar na luta da revolução americana. Na conclusão do livro, temos um relance da vida de Roger, Brianna e seus filhos em Lallybroch, onde se estabeleceram- no século XX- e a explicação de como a data foi escrita errada no jornal que anunciou a morte equivocada de Jamie e Claire.


                                      Capa da edição atual brasileira publicada em volume único pela editora Arqueiro
                                                   

Dentre as referências literárias que podem ser encontradas no livro, está o título da quinta parte “Great Unexpectations” (Grandes Inesperanças), a qual provavelmente relaciona-se com o título de Charles Dickens “Great Expectations” (em português: Grandes Esperanças). Não é à toa que Dickens foi um dos autores a quem Gabaldon dedicou o livro. Eu já comentei em resenhas anteriores, mas ao longo da série existem várias referências literárias e citações. Muito comum além de quotes bíblicos, são também os de Shakespeare, principalmente Hamlet e O mercador de Veneza. Infelizmente, como a maioria deles não é referenciado em uma nota de rodapé ou no próprio texto- e as inúmeras traduções do dramaturgo britânico também dificultam o reconhecimento- é difícil para o leitor encontrar todas.

Uma curiosidade acerca da parte histórica dos livros de Outlander é que os nomes dos governadores da Carolina do Norte que aparecem desde Tambores foram mantidos, e eles realmente existiram. Pode parecer obvio para alguns, mas eu imaginei que William Tryon e Josiah Martin fossem invenção da cabeça de Diana, porém sua pesquisa histórica nunca decepciona, e até onde eu vi todos os chefes de milícias citados nos livros (coronéis, capitães e etc...) também são reais. Certamente, o comportamento deles diante dos Frasers foi realmente obra da criatividade da autora, mas seus atos históricos, não. Josiah Martin, que aparece em Um Sopro de Neve e Cinzas, foi o último governador da Carolina do Norte antes da revolução americana. Outro personagem histórico importante a fazer aparição em Um sopro de Neve e Cinzas foi Flora MacDonald (especificamente em uma recepção em River Run), famosa por ter ajudado o príncipe Charles Stuart a fugir disfarçado de mulher após a derrota na batalha de Culloden.

Em um livro no qual lealdade e sobrevivência se entrelaçam, uma mente estratégica como a de Jamie Fraser é extremamente poderosa. É graças a ele que muitos dos conflitos são solucionados. A sua lealdade para com Claire e para com a sua família é absolutamente admirável, mas sempre esperada. Lindo foi também ver relances da sempre presente lealdade de Lorde John para com seu amigo Jamie em suas trocas de cartas em meio à guerra iminente, a qual pretende testar os laços que os unem. Com a Revolução Americana cada vez mais próxima, essas lealdades devem ser mais expostas e as tensões irão aumentar. Um Sopro de Neve e Cinzas é um livro forte e cheio de ação, mas também repleto de amor e respeito aos laços familiares e às escolhas que precisamos fazer para sobreviver, sabendo dosar na medida certa a calmaria do dia a dia do assentamento, com os embates que a disturbam.


Por Tuísa Sampaio


REFERÊNCIAS:

GABALDON, Diana. Um sopro de neve e Cinzas. São Paulo: Arqueiro, 2018.

GABALDON, Diana. The Outlandish Companion. New York: Delacorte Press, 2015. V.2.




21 de mai. de 2017

Resenha: A Cruz de Fogo


Contém spoilers

O quinto romance da série Outlander inicia-se no num dia muitíssimo longo em que ocorre uma assembleia (the gathering). A contagem de tempo desse livro é extremamente lenta, tanto é que um dia soma vários acontecimentos e o aparecimento de muitos personagens. A mesma situação acontece com o dia do casamento de Jocasta, tia de Jamie, que ocorre mais na frente. A assembleia e o casamento de Jocasta são os dois principais eventos da trama e a maioria dos conflitos resume-se à problemática diária de tratar com as famílias dos arrendatários e a preparação para guerra. Assim, A Cruz de Fogo acaba sendo um dos livros que menos agradam os fãs de Outlander, e confesso que é o que eu menos gosto também. Se você já leu e não gostou, não se desanime, porque o sexto livro tem um ritmo completamente diferente.


Capa original da edição atual


Diana cansou de torturar Jamie, e, nesse romance foi a vez de Roger sofrer mais um pouco. Ele acaba sendo enforcado como traidor, mas por sorte, Claire consegue salvá-lo por meio de uma cricotireotomia (acesso cirúrgico para a traqueostomia). Entretanto, ele perde a voz por um tempo e quando a recupera, já não consegue cantar como antes. Assim, o casamento entre Bree e Roger acaba passando por uma fase mais conturbada com as tentativas de aproximações de Brianna de seu marido pesaroso com a perda de algo com o qual muito se orgulhava. Dentre as descobertas trazidas por esta história vem o fato que Jemmy pode muito provavelmente viajar através das pedras como seus pais. A conclusão do livro traz uma linda declaração de Jamie para Claire:

“ Quando realmente chegar o dia em que tenhamos que nos separar – ele disse ternamente, virando-se para olhar para mim – , se minhas últimas palavras não forem ‘Eu a amo’, você vai saber que foi porque não tive tempo.”
Apesar de A cruz de fogo ser o livro que eu menos gosto da série como um todo, esse é o meu final favorito até agora dentre a trama de Diana.


Capa da primeira edição de A Cruz de Fogo(Rocco)


Assim, como os outros livros, a Cruz de fogo tem um tema e um formato. Diana escreve em The Outlandish companion v.02, que o quinto livro tem a forma de um arco-íris: começa com um dia bastante longo e as várias tramas do enredo desenvolvem-se a partir dele. Quanto ao tema, é bem claro que é sobre comunidade, já que todo o enredo gira em torno de grandes encontros, convivência e o modo de vida da família e seus arrendatários em Fraser’s Ridge. Diana explica em the Outlandish companion v.02 (tradução nossa):

“A Cruz de Fogo continua o senso de “construção” dos livros, do namoro, ao casamento, à família e agora à formação de uma comunidade, conforme Jamie reivindica seu destino original como laird e líder, sustentáculo e protetor de uma comunidade. Vimo-lo fazer isso (brevemente) em Lallybroch e então durante os anos depois de Culloden, quando ele liderou os prisioneiros em Ardsmuir, e os manteve (na sua maior parte) sãos e vivos ao forjá-los em uma comunidade. Jamie foi sempre definido (para ele mesmo, assim como para o leitor) pelo seu forte senso de responsabilidade e aqui nós o vemos em pleno funcionamento, conforme ele junta arrendatários para sua terra, Fraser’s Ridge, com a ajuda (e obstáculo ocasional de arrepiar os cabelos) dos viajantes do tempo de sua família. Assim como em qualquer história que vale a pena, a autodefinição de um protagonista (quer seja uma pessoa ou um grupo) é um processo tanto de descoberta, como de conflito. Pedras no caminho, oposição e perigo são as ferramentas que a natureza usa para esculpir uma personalidade marcante da pedra nativa. E assim nós vemos não apenas a formação da comunidade de Fraser’s Ridge (um paralelo e microcosmo da América emergente), mas a luta individual de Jamie, Claire, Brianna, Roger e outros, para se encaixar no seu ambiente em mudança, e preservar suas próprias identidades e descobrir suas vocações no processo.”


O que o leitor pode apreciar na comunidade dos colonos de Jamie é tanto a atividade comum da caça, preparação de comida, cuidado com as crianças, quanto as situações mais extraordinárias que costumam acompanhar os Frasers como assassinatos, roubos, mistério e guerra iminente. Finda que A Cruz de fogo seria um livro de transição da série: traz informações necessárias para os próximos livros, mas por si só não é algo muito atraente.


A editora Arqueiro publicou “A Cruz de fogo” no Brasil em dois tomos.


Capas das edições brasileiras atuais - Arqueiro

Por Tuísa Sampaio

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REFERÊNCIAS:

GABALDON, Diana. The Fiery Cross. Nova York: Dell, 2005.
GABALDON, Diana. The Outlandish Companion. 2. ed. New York: Delacorte Press, 2015.V.1.
GABALDON, Diana. The Outlandish Companion. New York: Delacorte Press, 2015. V.2.





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