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7 de jun. de 2016

Livro X Série de TV: Episódio 09 Je suis prest



Episódio 09: Je Suis Prest (Estou pronto)
       
O episódio 09 retornou ao bloco dos capítulos 36-39 de A Libélula no Âmbar como fonte material assim como esperado, entretanto não abrangeu todos os capítulos do bloco, como o título do próximo episódio é Prestopans, o mesmo do capítulo 36, imagino que eles retornem novamente a ele no próximo episódio. Dentro desse bloco de capítulos que teve a ordem invertida, comparando com a ordem dos capítulos com os fatos que aparecem nos episódios, foram usadas informações majoritariamente apenas do capítulo 36, e o complemento do resto do episódio foram invenções da produção como forma de ilustrar a situação do acampamento de guerra highlander. O título do episódio é o lema do Clã Fraser.
       

  • A chegada ao acampamento: o capítulo 36 inicia-se com Jamie perguntando a Claire sobre tudo o que ela tem conhecimento sobre a batalha de Prestopans e ela explicando o pouco que sabe, enquanto chegam ao acampamento com os homens de Lallybroch (no episódio, Jamie e Claire estavam acompanhados de alguns dos homens do avô de Jamie, menos alguns desertores, os quais jovem Simon saiu atrás de encontrá-los e estavam chegando ao acampamento para se encontrar com os seus homens, além de Murtagh e Fergus). Quando se sentam para se alimentar ao redor da fogueira, os homens começam a catar piolhos, cena esta que não entrou no episódio. Os homens haviam armado uma tenda para Claire e Jamie, enquanto o resto dormiria ao relento. Murtagh explica a Claire que ela e Jamie têm uma tenda para o caso de Jamie esgueirar-se para o meio das pernas dela durante a noite, e assim os homens não ficariam com inveja. No episódio, foram construídas cabanas para todos, então esse não foi um privilégio do casal principal, e aparentemente as cabanas eram menos rústicas que a ideia da tenda descrita por Diana no livro. Em Je Suis Prest também assim que chegam ao acampamento e encontram Murtagh, Jamie e Claire são encontrados por um Fergus muito feliz de ver sua Milady e seu Milord. Gosto muito de ver personagens e relacionamentos mais calorosos que no livro, pois nele os personagens são de certa forma mais recatados em demonstrações públicas de afeto, assim como em privado, não parecem demonstrar muito seus sentimentos por meio de gestos com exceção dos casais em si. De tal forma, Fergus do livro por mais leal que seja a Claire e Jamie principalmente não é de abraçar como no episódio, ainda mais que não seria algo característico da relação empregado-empregador que eles têm nesse andar da carruagem no livro. Por mais que depois Fergus seja adotado por Jamie, o pequeno francês continua a chamar Jamie de milord mostrando um certo distanciamento por meio da formalidade e demonstrando que ele sempre veria Jamie, mesmo que como pai, em um patamar de respeito acima do familiar. Assim, vejo essa fuga de personalidade de Fergus como algo gostoso de ser ver nas telas, e que de um jeito diferente ajuda a construir a ligação de lealdade que existe entre ele, Jamie e Claire, assim como o caminho que ele leva para virar um Fraser. No dia seguinte no episódio, Claire e Jamie encontram-se com Angus e Rupert (mais uma fuga de personalidade no sentido de mais calorosa, e não tenho nada a reclamar em relação ao calor humano exalado) e logo depois com Dougal (esta cena não existe no livro).
  
       
  • O primeiro encontro com Lord John (William Grey): ainda no episódio 36, logo após Murtagh informar sobre a tenda para Claire, ela começa a conversar com Jamie sobre sua alimentação. Claire escuta um ruído quando então Jamie some na escuridão, e depois de um barulho de luta, retorna então com um prisioneiro. Devido ao barulho, Murtagh e mais três homens aparecem. Quando vê o rosto do invasor, Claire grita que é apenas um menino que não deve ter mais que quinze anos e o menino responde dizendo que tem dezesseis. Jamie informa que a idade do menino é irrelevante considerando que ele havia acabado de tentar cortar a garganta de Jamie. Por mais que o menino afirmasse que não iria contar nada, Jamie afirma que já sabe de algumas coisas sendo elas que o menino estava com tropas próximas e que estava sozinho, pois ele não se atreveria a ter atacado se não pensasse que Jamie e Claire estavam sozinhos, e se o menino estivesse acompanhado, os outros teriam vindo socorrê-lo, assim como provavelmente teriam o impedido de tentar algo dessa tolice. Jamie dá conselhos de luta e então avisa que é uma pena que o menino não poderá usá-los no futuro. Quando ele pergunta ao jovem inglês por que ele o atacou, o menino informa que para libertar a senhora de sua custódia. Jamie pede então que o menino dê a ele um motivo para que não o mate e ele afirma que está preparado para morrer. A isso Jamie responde que não está preparado para matá-lo ainda e aquece a adaga no fogo (essa conversa sobre a morte é bem semelhante como ocorre no episódio). Jamie começa a fazer perguntas sobre as tropas e o menino afirma que não irá respondê-las. E assim Jamie pressionou a lâmina quente no maxilar do garoto, e Claire grita, consequentemente ele responde que isso não diz respeito a ela de uma forma bem impessoal. O menino afirma que não há nada que possa ser feito a ele para convencê-lo a falar, assim Jamie pergunta e se fosse algo feito à dama inglesa? Jamie começa uma falsa tentativa de estupro de Claire informando ao inglesinho que vai violentar a moça e depois dá-las aos seus homens. Ele não avisa a Claire da farsa e assim enquanto ele segura Claire, ela o morde e luta contra ele. Logo depois, ele desnuda Claire, rasgando seu vestido e continua a prendê-la (no episódio, Jamie não rasga o vestido, e a ideia da encenação vem da cabeça de Claire e não da dele. Além de que Jamie estava inicialmente sozinho e Claire só chega depois) Consequentemente, o menino resolve falar para salvar a honra da senhora. Assim, diz que seu nome é William Grey (O nome William Grey que Diana dá a este menino inglês é depois corrigido como John William Grey. Ela afirmou que tinha a intenção inicial de chama-lo de William, mas também queria que o filho de Jamie chama-se William, e o irmão de Jamie também já tinha esse nome. De tal forma, tudo ficaria muito confuso com tantos Williams, e resolveu mudar o nome de William Grey para John William Grey, personagem que mais na frente nos livros será conhecido por Lord John Grey). Após as informações fornecidas, Jamie pergunta se o menino quer morrer com um tiro no coração ou na cabeça, e William afirma que no coração, quando então o prisioneiro pergunta que garantia ele teria que a moça não seria mais importunada quando Jamie responde:
       
“Bem — disse ele, com o sotaque escocês mais forte sob a tensão -, você tem a minha própria palavra, é claro, embora eu possa compreender perfeitamente que você tenha alguma hesitação em aceitar a palavra de um... — seu lábio se contorceu involuntariamente — covarde escocês. Talvez aceite a garantia da própria senhora? — Ergueu uma das sobrancelhas em minha direção e Kincaid adiantou-se prontamente para me libertar de minha mordaça.


— Jamie! — exclamei furiosa, a boca finalmente livre.


— Isso é inadmissível! Como pôde fazer tal coisa? Seu... seu...


— Covarde — ele adiantou-se prestativamente. — Ou canalha, se preferir. O que acha, Murtagh — disse, voltando-se para seu tenente —, eu sou um covarde ou um canalha?


Os lábios finos de Murtagh contorceram-se numa expressão malvada.


— Eu diria que você é carne de cachorro se libertar sua garota sem uma adaga na mão.


Jamie voltou-se para seu prisioneiro com ar de arrependimento.


— Devo me desculpar com minha esposa por forçá-la a tomar parte nesta encenação. Asseguro-lhe que sua participação foi inteiramente a contragosto. — Examinou pesarosamente a mão mordida à luz da fogueira.


— Sua esposa! — O rapaz olhava desvairadamente de mim para Jamie.


— Também lhe asseguro que, embora a senhora em questão às vezes honre minha cama com sua presença, ela nunca o fez sob coação. E não o fará agora — acrescentou enfaticamente -, mas não a desamarre ainda, Kincaid.


— James Fraser — sibilei entre os dentes cerrados. — Se tocar neste garoto, com certeza nunca mais partilhará a minha cama!


Jamie ergueu uma das sobrancelhas. Seus caninos brilharam momentaneamente à luz do fogo.


— Bem, essa é uma ameaça séria, para um devasso sem princípios como eu, mas acho que não posso considerar meus próprios interesses nesta situação. Guerra é guerra, afinal de contas. — A pistola, que ele deixara arriar, começou a elevar-se outra vez.


— Jamie! — gritei.


Ele abaixou a pistola de novo e virou-se para mim com uma expressão de exagerada paciência.


-Sim?


Respirei fundo, para impedir que minha voz tremesse de raiva. Eu só podia imaginar o que ele estava tramando e esperava estar fazendo o que era certo naquela encenação. Certo ou não, quando isso terminasse... Afastei a visão extremamente agradável de Jamie contorcendo-se no chão com meu pé em seu pomo de adão, a fim de me concentrar no meu presente papel.


— Você não tem absolutamente nenhuma prova de que ele seja um espião — continuei. — Ele disse que se deparou com você por acaso. Quem não ficaria curioso se visse uma fogueira no bosque?


Jamie assentiu, seguindo meus argumentos. — Sim, e quanto à tentativa de assassinato? Espião ou não, ele tentou me matar, ele mesmo admitiu. — Passou os dedos delicadamente sobre o arranhão vermelho no lado de sua garganta. — Bem, é claro que ele o fez — disse, acaloradamente.


— Ele diz que sabia que você era um fora-da-lei. Sua maldita cabeça está a prêmio, pelo amor de Deus!


Jamie esfregou o queixo pensativo, virando-se finalmente para o seu prisioneiro.


— Bem, é um argumento — disse ele. — William Grey, sua advogada defendeu-o muito bem. Não é política nem de Sua Alteza, o príncipe Charles, nem minha, executar pessoas de modo ilegal, seja inimigo ou não. — Convocou Kincaid com um gesto.


— Kincaid, você e Ross levem esse homem na direção onde ele diz que está seu acampamento. Se as informações que ele nos deu forem verdadeiras, amarrem-no em uma árvore a um quilômetro e meio do acampamento na linha de marcha. Seus amigos o encontrarão lá amanhã. Se o que ele nos contou não for verdade... — parou, os olhos frios pousados no prisioneiro — cortem sua garganta.


Encarou o rapaz direto nos olhos e disse, com um ar zombeteiro:


— Eu lhe dou sua vida. Espero que a use bem. Deslocando-se para trás de mim, cortou a tira de pano que amarrava meus pulsos. Quando me virei furiosamente, ele indicou o garoto, que sentara-se de repente no chão, sob o carvalho.


— Talvez queira fazer a gentileza de cuidar do braço do rapaz antes de sua partida? (...)”
       

Assim, Claire cuidou do braço de William/Lord John, após o término, ela levanta-se e dá uma bofetada em Jamie. Quando William/Lord John estava sendo levado embora, informa que agora havia entre eles uma dívida de honra e que por isso assim que essa dívida estivesse paga, ele mataria Jamie. Logo depois Jamie puniu com uma surra de correia as sentinelas da noite e ele mesmo, tanto por ser negligente, quanto pelo que fez com Claire. No episódio, ocorrem duas surras separadas: uma das sentinelas da noite, no dia que Dougal coage dez pessoas a se unirem ao exército highlander, e a outra de Jamie no dia que William/Lord John entra no acampamento por sua negligência já que ele rasgou o vestido de Claire como no livro.
  
       
Diana tem uma série de livros de mistério, não traduzidos ainda para o português, em que o menino deste episódio já crescido é o protagonista, e que em ordem cronológica ocorreriam entre a Libélula no Âmbar e O Resgate no Mar, alguns tendo a participação de Jamie. Em um dos livros da série de Lord John chamado “Lord John and the brotherhood of the blade” (“Lord John e a irmandade da espada” em tradução livre), no capítulo 21 (Cowardice- Covardia), Lord John conta ao seu irmão postiço sobre este dia. Ele fala que o motivo de ter atacado Jamie foi tê-lo visto conversando com Claire, logo após ele ter se aproximado, pois tinha visto fumaça. Ele não conseguia imaginar uma dama inglesa nobre como ela parecia ser naquela região, e ele havia ouvido Jamie falar coisas para ela de conotação sexual. A conversa inicia-se porque Percy (irmão postiço) pergunta se John era corajoso, e ele responde que não, pois a única vez que fez um ato que intencionava ser corajoso acabou em desastre, assim conta a história de como conheceu Jamie Fraser. John depois de vários anos ainda sentia como tivesse feito papel de bobo, mas Percy lhe deu uma resposta que realmente vem a calhar com sua personalidade:
       
“ ‘Claro que você protegeria a mulher’, ele disse. ‘ Você protege todo mundo, John- Não imagino que você possa evitar.’”
       
No episódio, fizeram uma versão cômica desta cena. Por mais que eu tenha gostado de uma versão engraçada, pois acho a cena no livro tensa demais e uma excelente expressão do Eu-lírico psicopata de Diana em Jamie e do eu-lírico masoquista em Claire, que perdoa como sempre fácil demais as transgressões do marido, não gostei de outras mudanças realizadas nela. Como já mencionado a ideia passou a ser de Claire, e bem, a Claire dos livros nunca pensaria nisso. Outro ponto é que como Claire aparece depois que William/Lord John foi capturado, o motivo de ele ter tentado matar Jamie não foi para resgatar Claire. As fãs do Lord em questão sabem o quanto coragem e honra, assim como para Jamie, são algo de extrema importância para Lord John. E assim parte de sua personalidade deixou de aparecer, e ele é apresentado apenas como uma criança tola.
       
  • Incursão ao acampamento inglês: como consequência do que foi extraído do prisioneiro inglês, Jamie e os outros soldados highlanders fizeram uma pequena incursão ao acampamento inglês e o sabotaram. No capítulo 36, após a reconciliação de Jamie e Claire, que como sempre terminou na cama, Jamie acorda Claire trazendo seus troféus de guerra, os contrapinos das rodas dos canhões ingleses que ele e seus homens haviam furtado, assim como haviam destruído as rodas. A conversa que ocorre no livro é bem semelhante a que acontece no episódio.
       
  • O treinamento highlander: pelo episódio, foi mostrado muito de como deveria ser treinado um soldado, visto que a maioria dos escoceses das Highlands eram agricultores que não tinham conhecimento de batalha. Apesar de estes treinamentos não aparecerem desta forma exatamente no livro, servem de ilustração para a preparação da guerra e acabam se encaixando com a ideia de “estar pronto” que permeia todo o episódio.
       
       

  • O transtorno de estresse pós-traumático de Claire: no livro, Claire não sofre de estresse pós-traumático em decorrência da segunda guerra mundial como no episódio. Achei a forma como foi colocada no episódio bem lógica e preencheu certas lacunas da minha compreensão do livro. Senti falta disso nos escritos de Diana, porque não entrava na minha cabeça como Claire poderia ter enfrentado uma guerra e ter voltado sem nenhum trauma. Assim, em Je Suis Prest, Claire começa a ter comportamentos estranhos resultantes de suas memórias que haviam sido acionadas no acampamento de guerra, enquanto Jamie treinava os homens. Jamie não sabia por que ela estava agindo de forma estranha e mesmo perguntando, ela continuava afirmando que estava bem. Até que ela percebeu em uma das lembranças como a guerra estava a afetando e quando Jamie a encontra deitada no chão, ela conta a ele. Jamie oferece a ela a chance de voltar para casa e ela nega, pois não quer se sentir mais sozinha e impotente. E desta vez, serão pessoas que ela conhece que estarão lutando e ela não pode simplesmente não fazer nada. É quando Jamie promete que ela nunca ficará sozinha. A introdução do estresse pós-traumático de Claire foi uma “bola dentro “ da produção em minha opinião, mas que acaba contrastando com a maneira superficial que Diana trata os traumas em mulheres. O modo como ela retrata suas personagens femininas tende a ser com a construção de uma fortaleza quase de diamante. Elas sofrem traumas que não são tão explorados como o dos homens, como se elas de alguma forma fossem mais fortes ou estivessem acima disso (não que o ponto de dor dos traumas delas não seja retratado ou que não se volte a eles várias vezes ao longo dos livros, mas isso é mais presente na dor masculina, assim como mais detalhado). Não sei se é algo bom ou ruim, mas é como eu enxergo. E por mais que eu admire muito a personagem Claire, sua bravura, inteligência e força, é bom percebê-la de forma mais humana e entendê-la como uma pessoa mais real.
  
       
Acho que esse episódio provou que a produção é capaz de usar sua criatividade para coisas que se encaixem com o contexto e coerência dos livros, ou mesmo quando fogem deles, podem criar um ambiente verossímil para esses personagens que tendem a agradar fãs dos livros, fãs da série e fãs dos dois. A trilha sonora consegue se superar em cada episódio e neste foi o ponto mais forte. É sempre bom e preferível ver as cenas dos livros como elas acontecem, mas existem certas peças que ao serem encaixadas podem servir para melhorar a compreensão da história como um todo, mesmo que não presente no livro como foi a criação do estresse pós-traumático de Claire.
       
P.S: Em relação à frase “Je suis prest” para os fluentes em francês é bem estranha, pois sua escrita atual seria “Je suis prêt” (inclusive a frase original foi substituída em algumas traduções dos livros pela versão moderna). Diana justifica em um dos seus livros compêndios de Outlander (The Outlandish Companion, vol. 01- não lançado em português) a utilização desta expressão da seguinte forma:
       

“Esta é uma das coisas que não é um erro, mas as pessoas frequentemente pensam que é. Sim, eu sei (como várias dezenas de pessoas têm me informado) que a ortografia francesa correta é ‘Je suis prêt’. Entretanto, o fato permanece que o maldito lema Fraser é ‘ Je suis prest’. O ‘prest’ é uma ortografia francesa obsoleta; o ‘s’ foi substituído pelo diacrítico ‘e’ em algum momento no século XIX ou XX- mas ‘prest’ era, e ‘prest’ é.”

   
Símbolo dos Frasers de Lovat com seu lema / Fonte: Scotclans
       

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