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29 de jun. de 2016

Livros X Série de TV: Episódio 12 The Hail Mary

Episódio 12: The Hail Mary (A Ave Maria - tradução livre)
       
O episódio doze retornou ao bloco de capítulos 37 (Holyrood), 38 (Um pacto com o diabo), 39 (Laços de família) que haviam sido deixados de lado, seguindo para o 45 (Malditos sejam todos os Randall). O capítulo 42 (Reencontros) não é utilizado como todo, mas é onde Claire reencontra Mary e recebe algumas informações do Capitão Randall, assim entendo que também foi usado como fonte material. O nome do episódio “Ave Maria” faz referência às despedidas que nele ocorrem como forma de um último suspiro, ao mesmo tempo em que simboliza o que eles acreditam ser a última chance de impedir a batalha de Culloden segundo os roteiristas. Uma curiosidade é que o “Hail Mary” é um passe longo feito nos jogos de futebol americano que tem pouca chance de sucesso e é realizado em sinal de desespero, uma excelente descrição da mensagem do enredo deste episódio. Como The Hail Mary segue três tramas que tem Claire e Jamie como ponto de interseção, decidi falar sobre os acontecimentos relativos ao núcleo de atuação dos irmãos MacKenzie primeiro, seguir para os irmãos Randall e concluir com a “última” tentativa de Jamie de impedir a batalha de Culloden, dividindo o texto em três partes. Essa ordem não necessariamente se apega a ordem dos livros, nem a da série de TV, uma vez que as histórias ficam constantemente se entrelaçando, mas acredito que funcione de uma forma que permita a melhor compreensão da comparação em termos de escrita. Assim, vamos agora mergulhar no mundo do livro e da série de TV com uma estrutura um pouco mais estratificada:
       

Parte I: Os irmãos MacKenzie

       
 “Ave Maria, cheia de graça...”: o capítulo 37 inicia-se com o príncipe Charles solicitando a Claire que ela convença Colum MacKenzie a unir seu clã à luta pelos jacobitas. Colum está já muito debilitado, pede desculpas a sua “sobrinha” por ela ter sido quase queimada na fogueira como bruxa, é quando ela conta a ele que só foi até a vila porque Laoghaire lhe mandou um recado. Colum pergunta a ela se ela quer vingança em relação à menina, pois ele poderia mandar bater nela e etc. e Claire diz que não. Isso não aparece no episódio, em primeiro lugar porque a conversa sobre Laoghaire ocorre no episódio oito (The Fox’s Lair), em que Colum já sabe que havia sido culpa dela e afirma que já tinha mandado que ela fosse punida, mas não toma nenhuma responsabilidade para si mesmo. E em segundo lugar porque a cronologia da série de TV vem sendo diferente da dos livros. A essa altura (outubro de 1745), Laoghaire já estava casada com Hugh MacKenzie. Como a cronologia da série está bem diferente da do livro, principalmente após o retorno à Escócia (exceto em relação às batalhas históricas eu suponho), quando Laoghaire aparece em The Fox’s Lair, ela não está casada ainda (e não sei dizer qual seria a data desta visita na série de TV). A visita que Colum faz ao acampamento escocês na versão televisiva não é em outubro de 45 (como no livro), mas em abril de 1746, assim é possível que ela tenha se casado algum tempo depois dos eventos ocorridos no episódio oito, mas o telespectador não foi informado disso (ou não, porque podem ter escolhido lhe dar um destino diferente). Em The Hail Mary, o objetivo de Colum ao ir até Claire e Jamie não era ver o príncipe Charles e por tabela pedir desculpas a Claire e lhe requisitar uma graça acerca de sua morte como em A Libélula no âmbar. O objetivo principal seria resolver quem seria responsável por Hamish, visto que seu pensamento sobre a posição dos MacKenzie já estava fortemente decidido, e entendi que como consequência à presença de Claire, ele solicitou que ela lhe ajudasse a ter uma morte rápida. No livro, assim como na série, ele pede pela mesma morte que Geillis deu ao marido. Neste ponto há uma divergência na construção das cenas, pois no romance, Claire entrega o cianureto a Colum. Na TV, Claire entrega outro veneno que poderia matá-lo de uma forma menos dolorosa e é também neste diálogo que os telespectadores descobrem sobre a sobrevivência do filho de Geillis. No universo dos livros, essa descoberta é feita pelo leitor no capítulo 47 (Detalhes) de A Libélula no Âmbar quando Claire conta a Roger sobre sua ascendência. Diana interrompe este trecho e muda a narrativa para um diferente cenário e momento (no qual Claire é informada sobre cartazes que estão sendo espalhados sobre ela chamando-a de “a bruxa Stuart” e outros mais, seguido de uma performance de luta de espadas entre Dougal e Jamie, e uma briga entre Fergus e o filho de um dos soldados até que Claire se reencontre com Colum acompanhada de Jamie). Vou abrir um parêntese em relação à briga de Fergus com o Johnny, o filho do soldado Kilmarnock porque a acho hilária e gosto da lição de moral que advém dela. Infelizmente, a produção escolheu construir um episódio mais sério, e o humor ficou de lado desta vez. Fergus brigou com o menino, pois ele fez um comentário grosseiro em relação a Jamie:
       
“Fergus definitivamente recaía na segunda categoria. Ofendendo-se com uma observação depreciativa de Johnny sobre “chefes de gorro”, que ele — com toda a razão — interpretara como um insulto a Jamie, Fergus fora forçosamente impedido de atacar Johnny no jardim de pedras alguns dias antes. Jamie aplicara um rápido castigo físico e depois explicara a Fergus que, embora a lealdade fosse uma virtude admirável e altamente valorizada por quem a recebia, a burrice não era.


— O garoto é dois anos mais velho do que você e bem mais forte – dissera ele, sacudindo Fergus delicadamente pelo ombro. — Acha que vai me ajudar machucando-se numa briga? Há ocasiões em que se deve lutar sem medir as consequências, mas há outras em que se deve morder a língua e esperar o momento certo. Ne pétez plus haut que votre cul, ouviu?


Fergus assentiu, limpando o rosto molhado de lágrimas com a ponta da camisa, mas eu tinha minhas dúvidas se as palavras de Jamie haviam realmente calado fundo em Fergus. Eu não gostava do olhar especulativo que eu via agora naqueles grandes olhos negros e pensei que, se Johnny fosse um pouco mais inteligente, ficaria entre mim e seu pai.


(...)


— Fergus! — disse.


Kilmarnock virou-se na direção em que eu estava olhando e viu Fergus. O garoto segurava um pedaço de pau em uma das mãos, com uma casualidade tão fingida que chegava a ser ridícula, se não fosse pela ameaça implícita.


— Não se preocupe, milady Broch Tuarach — disse lorde Kilmarnock, após uma rápida olhadela. — Meu filho sabe se defender honrosamente, se a ocasião exigir.


(...)


A espada enterrou-se no chão a seus pés, seguindo-se um “ah” coletivo dos espectadores. Somente quando Jamie inclinou-se para retirar a espada de sua bainha de grama foi que eu notei que havia dois espectadores a menos na plateia. Um, o Senhor de Kilmarnock, de doze anos, jazia de cara no chão na beira do gramado, o crescente galo em sua cabeça já evidente em meio aos cabelos castanhos, lisos e soltos. O segundo não era visto em lugar nenhum, mas ouvi um leve murmúrio das sombras atrás de mim.


— Ne pétez plus haut que votre cul — disse a voz, com grande satisfação. Não peide mais alto que seu cu.”
       
Eu adoro essa cena, e essa ideia de Jamie de ensinar a Fergus por meio de um ditado francês que não deve se arriscar a fazer coisas que estão acima da sua “capacidade” e como consequência Fergus mostrando que ele era sim capaz de derrotar o menino. É um momento que é possível ter um pequeno vislumbre de como Jamie seria enquanto pai e um pouco daquilo que ele teve que sacrificar para que sua família ficasse segura. Voltando a Colum, no livro, ainda no capítulo 37, Claire e Jamie são chamados para conversar com ele. Durante o diálogo, Colum fala sobre sua irmã Ellen, mãe de Jamie, e sobre o marido dela e pai de Jamie, Brian. No final, faz a pergunta pela qual estava ali: se ele deveria manifestar apoio à luta jacobita ou não. Jamie foi sincero e disse para o tio ir para casa. Em The Hail Mary, essa pergunta teria pouco sentido, visto que retornando ao oitavo episódio, Colum tinha ido até a casa do avô de Jamie, de quem não era amigo, para convencê-lo também a se manter neutro (fato que não ocorre nos livros), ou seja, não havia um pingo de dúvida acerca da sua decisão. No episódio também não ocorre a conversa sobre os pais de Jamie. Nos acontecimentos do capítulo, ainda acontece um baile que não foi retratado na TV não apenas pelo tempo, mas também porque neste ponto da história tão perto de Culloden não havia coerência em sua realização, lembrando que como os capítulos foram invertidos, no livro, eles ainda estavam no final de 1745. No final da referida festa, Angus informa aos Frasers sobre a morte de seu senhor (assim ele acaba não morrendo por envenenamento, mas por causas naturais, conclusão feita por Claire já que ele não havia tido tempo ainda de fazer as preparações para deixar o clã MacKenzie fora da luta e porque ela encontra o frasco de veneno intocado). Consequentemente, é neste ponto do livro, que Dougal, como Laird, decide trazer os MacKenzie completamente para a luta.
       

       
... o senhor é convosco...”: na série de TV foi acrescentada uma conversa entre Jamie, Colum e Dougal que não ocorre no livro sobre a guarda de Hamish. Tanto Dougal, quanto Jamie pensaram inicialmente que Colum estava ali presente para manifestar o apoio dos MacKenzie à causa Stuart, entretanto ele estava lá para discutir quem seria o tutor de Hamish. Ele concede a honra a Jamie, o que irrita Dougal. E Jamie afirma que se for guardião de Hamish, ele irá trazer os MacKenzie para luta assim como Dougal faria. Colum lhe lembra então que ele sabe que Jamie nunca sacrificaria seus homens em vão, e que Dougal não seria capaz de fazer o mesmo. Assim, a cena termina dando a entender que Hamish ficaria sob a tutela de Jamie. Isso não ocorre no livro, então como será o desenrolar de tal situação dentro da série de TV é imprevisível. Essa parte da oração da Ave Maria sempre me fez entender que não importa o quão difícil minha vida esteja, ou quão difícil era a decisão que eu tivesse que tomar, eu nunca estaria sozinha, e isso me daria força, da mesma forma que Maria nunca esteve só. Por mais que Colum só fosse católico da boca para fora, eu vi esse trecho como o seu “o senhor é convosco”, como a sua força para tomar as decisões sobre seu filho e seu clã antes de partir, como uma companhia naquele momento tão solitário, como um alicerce de apoio e como um sustentáculo.
       
...rogai por nós pecadores...”: como já mencionado antes, a morte de Colum não é algo que é presenciado pelo leitor em A Libélula no Âmbar, mas sim uma notícia que chega aos Frasers. Na versão da TV, a morte de Colum foi filmada e ocorre na presença de seu irmão Dougal. A grande mudança em relação aos livros que ocorre nesta cena é que Colum morre pelo veneno de Claire, enquanto Dougal conversa com ele sobre as primeiras manifestações de sua doença. Para o cristianismo, a morte por suicídio é um pecado e Claire havia lembrado Colum disso quando lhe entregou o veneno no livro, mas Colum afirma que não acredita em Deus. Percebe-se nesta cena,durante o episódio, o egoísmo do irmão mais novo em fazer parecer no diálogo com que todo o sofrimento do mais velho de alguma forma lhe afetasse de maneira similar. A dor de Colum nunca iria se equiparar a perda da idealização de seu irmão mais novo, mas para Dougal, a doença de Colum também havia lhe dado um fardo a ser suportado. Mais uma manifestação do seu narcisismo, que Claire no episódio Je Suis Prest havia lhe apontado.
       

Parte II: os irmãos Randall

       
Santa Maria...”: no capítulo 38 (O pacto com o diabo), após as descrições de um surto de gripe que não aparece na versão da TV, Claire encontra com Black Jack Randall, também conhecido como “O diabo com quem ela fará o pacto”, entretanto para o oficial inglês, o diabo com quem o pacto ocorreria era Claire, a quem ele via como bruxa. O capitão pega seu braço e ordena que ela venha com ele, pois o homem tinha a intenção de fazer uma proposta a ela. Black Jack propõe a Claire que em troca de suas habilidades médicas para ajudar Alex, ele lhe forneça informações sobre os planos das tropas. Enquanto conversam Jack pergunta se Jamie contou a Claire as coisas que o capitão havia lhe feito em Wentworth e que de alguma forma, Jonathan e ela estavam ligados por meio dele, e que Jack tinha tirado a masculinidade de Jamie da mesma forma que Jamie havia tirado a dele depois (no livro, Jamie conta a Claire, ainda em Paris, que Black Jack havia perdido sua “virilidade” em decorrência do ferimento no duelo deles, isso não é informado na série. Assim, assume-se que ele ainda pode estabelecer os seus deveres conjugais com Mary, quando o casamento é proposto mais a frente). A primeira parte deste trecho foi um diálogo que acabou sendo inserido na série parcialmente não no primeiro reencontro entre eles, mas quando Claire sai do quarto de Alex para falar com seu irmão mais velho a fim de tentar convencê-lo a realizar o último desejo do moribundo. No episódio, Claire encontra primeiro com Mary quando vai a Inverness para substituir os suprimentos que havia perdido no ataque dos ingleses, ela lhe conta que Alex está doente e onde eles estão morando. Claire vai visita-los, quando o Randall mais velho chega, e Mary fala de sua ajuda. Ela sai do recinto, e ele a segue e pede sua ajuda. É ela quem pede a troca de informações como moeda para ajudar Alex, o que não é nem um pouco digno da personalidade da Claire dos livros. A própria afirma no final do capítulo 38 que teria ajudado Alex por ele mesmo se não fosse Jack pedindo. Claire não conta a Jamie sobre esse relacionamento com o mais velho dos Randall, nem o trato feito, fala apenas que está tratando o mais novo. Jamie só descobre mais a frente quando Alex pede a Claire para trazer seu marido até ele. No episódio, entretanto, Claire já conta a Jamie sobre o pacto e lhe entrega as informações recebidas (no livro, ela leva as informações como rumores sem dizer a fonte) e Jamie se irrita, mas são as localizações que são dadas a ele por Randall, que possibilitam a Jamie traçar um “último” plano para impedir Culloden. Jamie fica com medo de Alex morrer nos braços de Claire e que assim, ela sofra alguma reprimenda. Como consequência, Murtagh acaba acompanhando Claire aos encontros (o que não ocorre no livro) por sugestão dela. Mary apenas se reencontra com Claire no capítulo 42 (reencontros) enquanto Claire tentava penhorar seu colar de pérolas para ajudar os homens de Jamie que no livro estavam presos. A Srta. Hawkins sabia onde estava Alex, mas não estava residindo com ele, nem sacrificando sua honra de forma pública como na série de TV, mas pede para Claire acompanha-la em uma visita a Alex com o objetivo de ajuda-lo, mal sabia Mary que Claire já estava fazendo isso. No capítulo 39 (Laços de família), Black Jack leva Claire até seu irmão, onde a Sra. Fraser fornece seus cuidados médicos e conta a Alex que ele não tem cura.
    
       
... bendito é o fruto do vosso ventre...”: no capítulo 45, Mary, Jamie, Claire e Murtagh retornam para as proximidades do quartel-general do exército escocês após a morte do Duque de Sandringham. Claire leva Mary para visitar Alex. É quando Alex pede a Claire que ela retorne no dia seguinte acompanhada do marido. Jamie e Claire foram no dia seguinte encontrar-se com Alex e Mary, que havia permanecido ao seu lado. Algum tempo depois mais um convidado aparece: Jack Randall. Jamie e Jack acabam ficando presentes no mesmo recinto, mas são obrigados a se comportar diante das outras pessoas. Mary, Claire e Jamie se afastam para que os irmãos Randall tenham alguns momentos a sós.
       
“-John — disse ele. — Você vai saber que não lhe peço isso sem motivo. Mas pelo amor que você tem por mim... — Um acesso de tosse o interrompeu, o esforço ruborizando seu rosto com uma cor febril.


Senti o corpo de Jamie retesar-se ainda mais, se isso fosse possível. Jonathan Randall também se enrijeceu, como se sentisse a força do olhar de Jamie sobre si, mas não ergueu os olhos.


— Alex — disse ele serenamente. Colocou a mão no ombro do irmão mais novo, como se quisesse acalmar a tosse. — Não se atormente, Alex. Sabe que não precisa pedir; farei qualquer coisa que você quiser. É a respeito da... da garota? — Olhou na direção de Mary, mas não conseguiu realmente encará-la.


Alex assentiu, ainda tossindo.


— Tudo bem—disse John. Colocou as mãos nos ombros de Alex, tentando levá-lo a se deitar no travesseiro outra vez. — Não deixarei que nada lhe falte. Descanse sua mente.


Jamie olhou para mim, os olhos arregalados. Sacudi a cabeça devagar, sentindo meus pelos arrepiarem-se da minha nuca à base de minha espinha. Tudo fazia sentido agora; o viço no rosto de Mary, apesar de seu sofrimento, e a sua aparente concordância em se casar com o rico judeu de Londres.


— Não se trata de dinheiro - disse.


— Ela está grávida. Ele quer... — parei, pigarreando — Acho que ele quer que você se case com ela.


Alex meneou a cabeça, confirmando, os olhos ainda cerrados. Respirou profundamente por um instante, depois os abriu, brilhantes poças cor de mel, fixas no rosto perplexo que o olhava sem compreender.


— Sim — disse ele. -John... Johnny, preciso que você cuide dela por mim. Quero... que meu filho tenha o nome Randall. Você pode... lhes dar certa posição no mundo, muito mais do que eu pude.


Estendeu a mão, tateando, e Mary segurou-a, prendendo-a contra o peito, como se quisesse lhe preservar a vida. Ele sorriu-lhe ternamente e estendeu a mão para tocar os cachos escuros, brilhantes, que caíam ao redor de seu rosto, ocultando-o.


— Mary. Desejo-lhe... bem, você sabe o que lhe desejo, minha querida; tantas coisas. E tantas coisas que lamento. Mas não posso lamentar pelo amor que nos une. Tendo conhecido essa alegria, poderia morrer feliz, a não ser pelo meu medo de que você possa ficar exposta à vergonha e à desgraça.


— Não me importo! - irrompeu Mary ferozmente. — Não me importa que fiquem sabendo!


— Mas eu me preocupo com você — disse Alex, meigamente. Estendeu a mão para seu irmão, que a segurou após um instante de hesitação. Ele então as uniu colocando a mão de Mary na de Randall. A de Mary permaneceu inerte e a de Jack Randall rígida, como um peixe morto em uma prancha de madeira, mas Alex envolveu-as com suas mãos e pressionou-as com força, obrigando-as a se juntarem.


— Eu os entrego um ao outro, meus queridos — disse ele calmamente. Olhou de um rosto para o outro, cada qual refletindo o horror da sugestão, submersos na dor avassaladora da perda iminente. (...)”

       
Claire disse que foi a primeira vez que viu Jack Randall sem palavras. Alex anunciou que ele mesmo os casaria (no livro, Alex segue “carreira” religiosa) e pedira para que Jamie acompanhasse Claire a fim de que fossem testemunhas. No episódio, a outra testemunha do casamento é Murtagh. Jamie em nenhum momento se aproxima de Black Jack. Em uma das visitas que Claire realiza, Jack se irrita, agarrando-a pelo braço, e Murtagh aparece rapidamente como guardião, cumprindo o papel que lhe foi designado. Alex pede a seu irmão que casa-se com Mary para prover a ela e a seu filho (a gravidez de Mary já é de conhecimento desde o encontro dela com Claire durante a visita a Alex, enquanto no livro só é revelada alguns momentos antes do casamento). Uma variação em relação às histórias é que durante o episódio Jack Randall surta com o pedido de seu irmão. É necessário que Claire vá convencê-lo a aceitar o casamento, tendo antes o próprio Murtagh tentado persuadir Lady Broch Tuarach que talvez fosse melhor até ele mesmo casar com Mary do que Jonathan Randall. A dúvida acerca do Capitão conseguir conter seus impulsos sádicos em relação a Mary não surge no livro, pois o leitor já sabe que Randall foi castrado. A existência do filho de Mary e Alex é que resolve o enigma do nascimento de Frank. Entretanto, a castração resultante do ferimento que Jamie deu a Jack no duelo não é mencionada no episódio e cogita-se a possibilidade de Mary ter que cumprir os deveres conjugais com Randall, caso ele sobreviva à “maldição de Claire” que disse que ele morreria no dia 16 de abril de 1746. No livro, essa castração representa a vingança de Jamie, ainda mais quando o capitão diz que ele tirou a masculinidade de Jamie da mesma forma que Jamie depois tirou a sua. A ausência disso no episódio tirou todo o significado do duelo de Paris. Claire perdeu o bebê, Jamie foi preso, ela teve que se prostituir para o rei para tirar Jamie da prisão para Black Jack não ter nenhuma sequela? A noção de justiça divina de Diana é definitivamente e de longe bem melhor que a dos produtores da série de TV. Voltando ao casamento nas telas, ele é realizado por um ministro em vez do próprio Alex. Após perguntar se eles se aceitam, o ministro questiona as testemunhas Claire e Murtagh se eles ajudarão a apoiar o casamento. Claire responde que sim, e Murtagh, esta criatura terna e educada que nós conhecemos, fala logo que sim e para o padre andar logo com isso.
    
       
...agora e na hora de nossa morte...”: voltando ao livro, no capítulo 45 (Malditos sejam todos os Randall), após o casamento, Claire ficou com Mary e Alex, enquanto Jamie levava Jack Randall de volta ao seu alojamento (estranha cena ,com certeza). A morte de Alex, assim como a de Colum no livro não aparece. Sabemos que ocorreu porque Claire conta a Jamie. Sucede um diálogo que justifica o título do capítulo, uma explosão de Jamie bastante coerente, mas que infelizmente do modo como o episódio foi construído não seria lógica a sua inclusão. É um trecho do livro em que finalmente Jamie joga sua raiva em relação a todos os Randall, inclusive Claire por tudo o que esta família lhe fez passar. Honestamente, eu adoro o final do diálogo pelo maneira como Jamie expressa seu ciúmes (adoro Jamie ciumento) em relação a Frank:
       
“— Bem — disse, tentando sorrir -, ao menos sabemos que Frank esta a salvo, afinal de contas.


Jamie olhou-me furioso, as sobrancelhas ruivas quase se tocando.


— Dane-se Frank! — disse ele, ferozmente. — Danem-se todos os Randall! Dane-se Jack Randall e dane-se Mary Hawkins Randall e dane-se Alex Randall... hã, que Deus o tenha, quero dizer — corrigiu-se apressadamente, benzendo-se.


— Pensei que você não guardasse rancor... — comecei a dizer.


Ele me fitou com raiva.


— Eu menti.


Agarrou-me pelos ombros e sacudiu-me levemente, segurando-me com os braços estendidos.


— Falando nisso: e dane-se você também, Claire Randall Fraser!— exclamou ele. — Pode ter certeza de que guardo rancor! Tenho ciúmes de cada lembrança sua que não me inclua e de cada lágrima que você verteu por outra pessoa e de cada segundo que passou na cama de outro homem! Danem-se todos!


Ele derrubou o copo de conhaque de minha mão -acidentalmente, creio —, puxou-me para si e beijou-me com força. Afastou-se o suficiente para sacudir-me outra vez.


— Você é minha, Claire Fraser! Minha, e eu não vou compartilhá-la, nem com outro homem nem com uma lembrança, nem com coisa nenhuma, enquanto nós vivermos. Não mencione o nome desse homem para mim outra vez. Você me ouviu? — Beijou-me impetuosamente para enfatizar suas palavras. — Você me ouviu? — perguntou ele, desligando-se bruscamente de mim.


— Sim — disse, com alguma dificuldade. — Se você... parasse... de me sacudir, eu poderia... responder.


Um pouco timidamente, ele soltou as mãos dos meus ombros.


— Desculpe-me, Sassenach. É que... Deus, por que você... bem, sim, vejo porque... mas você tinha que... — Interrompi aquela fala entrecortada e incoerente colocando a mão em sua nuca e puxando sua cabeça para mim.”
       
É depois dessa cena que deveria ocorrer a “oração” de Jamie para Claire enquanto ela dormia que foi colocada no episódio passado. Em The Hail Mary, a morte de Alex foi filmada, como fizeram com a de Colum, para traçar um paralelo do relacionamento entre os irmãos. Na versão da TV, após a morte, Jack soca repetidamente o irmão para o choque de Mary e Claire. Acaba por ser uma cena estranha, uma vez que além da reação ser inesperada, não acredito que condiga com o aparente amor que Jack sentia por Alex. Afasta-se um pouco da teoria que alguns fãs têm que Black Jack seja apaixonado pelo irmão, apesar de que os indícios para esta hipótese não estejam contidos na série de TV. Tobias explicou a mudança de perspectiva nesta cena em sua entrevista para vulture:
       
“É talvez a maior mudança em relação aos livros para ele. E originalmente, no roteiro, estava escrito que Jack chorara. Ele estava repleto de emoção. Mas nós todos vimos uma cena onde um irmão chora no leito de seu ente querido, e isso não parecia de acordo com o caráter de Jack. E nós podíamos ver que ele estava emocionado com a morte do irmão. Então decidimos pular o choro, e fazer com que ele atacasse fisicamente o corpo do irmão. Tinha que ser algo mais bizarro, algo mais estranho, algo mais violento. É uma expressão estranha de seu amor: se você me abandonar, eu irei te destruir. E pareceu surpreendente. É a última coisa que você esperaria, mas também se mantendo com o personagem.” (Tradução livre)
       
Se o objetivo era surpreender, missão cumprida.
       

Parte III: A ave Maria de Culloden

       
... Amém”: “Assim seja” é o significado do termo em latim “amém”. A resignação da ideia de que não há mais nada o que se fazer, que se cumprirá o destino, a providência divina ou o que quer que seja esta força que faz o tempo e os eventos acontecerem de determinada maneira no mundo. Essa é a descrição da trama de Jamie neste episódio. Ele de alguma forma ainda tentava lutar para que Culloden não ocorresse, desistir ainda não era uma opção com tudo que estava em jogo. Este enredo de Jamie em The Hail Mary não acontece no livro, mas serve para colar as outras histórias deste episódio e caracterizar a sua última chance, sua ave Maria. Quando retornam ao acampamento, Claire vai para Inverness, enquanto Jamie está decidido a continuar seu esforço para persuadir o príncipe a não lutar em Culloden. Jamie usa as informações que Claire consegue com Black Jack para maquinar um plano de ataque que os afaste da história como está escrita. Junto com Lorde George ele dá a ideia ao príncipe de eles fazerem um ataque surpresa ao acampamento dos ingleses. O’Sullivan diz que concorda com esta proposta contanto que em vez de serem duas colunas de ataque formadas por Jamie em uma e George na outra, seja George e Jamie juntos, e O’ Sullivan e o príncipe liderando a outra. Jamie não queria concordar, mas Lorde George aceita. O príncipe se perde no escuro, não chegando ao local combinado, e o general cancela o ataque. O episódio se conclui com o anúncio de Murtagh que no dia seguinte a batalha aconteceria em Culloden. E assim seja...
    
       
Por Tuísa Sampaio
       

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6 comentários:

  1. creio que voce nao percebeu... mas nna serie... na cena do duelo... mostrou... em um belo foco do ferimento na virilha do black jack... mesmo que nao se fale ja fica claro pro expectador q ele foi castrado

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    1. Oi, percebi sim, mas não foi mencionada castração. No livro, Jamie conta isso a Claire, e ela havia visto o ferimento assim como nós, telespectadores, vimos na TV, mas não soube da castração até que lhe fosse contada. Na série de TV, Jamie dá uma 'furada" e não corta. Nos livros, dá a entender pela descrição de Claire que Jamie cortou, pelo modo como ela fala do ângulo da lâmina em sua conversa com ele, mas pode ter sido tanto o corte, como a infecção. Nos livros, BJR já é claro com Claire sobre ter "perdido sua masculinidade", e Claire já sabia disso porque Jamie já havia contado. Isso não é falado em nenhum momento no episódio, sempre a conversa flui no sentido de Mary e BJR serem capazes de ter um casamento normal (se é possível ter um casamento normal com Black Jack). Um leitor dos livros pode imaginar que em decorrência do ferimento, Black Jack tenha essa sequela específica, mas se não foi mencionado, para quem vê só a série de TV talvez não. Se não é mencionado neste universo e ainda se a conversa não permite essa construção como é o caso em que os diálogos entre os personagens indicam o contrário, pois tanto Jamie quanto Murtagh achavam que Claire não deveria incentivar o casamento entre Mary e Black Jack considerando sua natureza sádica (o próprio Black Jack dá a entender isso) então percebo que não ocorreu. Se não houvesse essas conversas eu, por ter lido os livros, talvez subentendesse, como você, que a castração tivesse ocorrido. Mas na minha opinião, os diálogos entre os personagens sobre os deveres conjugais somado ao fato de nem Jamie, nem ninguém contar que BJR havia sido castrado excluíram isso do universo da série de TV (a não ser ou até que isso seja contado em outro momento mais na frente). Obviamente, esta é a minha interpretação acerca do ocorrido. Nada impede que outras pessoas tenha interpretações diferentes.

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  2. Não consigo entender porque eles decidiram cortar as cenas carinhosas entre Claire e Jamie nesta segunda temporada...

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    1. Isso sempre me entristece, mas tudo indica que eles focaram mais na guerra a fim de atrair o público masculino :(

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  3. Tuísa Parabéns, excelente resenha.

    Gostaria só de acrescentar que mesmo castrado (ferimento ou remoção dos testículos como consequência do ferimento), considerando o extremo sadismo do personagem, não seria a falta de ereção que protegeria Mary, estando esta a merce de Black Jack como esposa.

    Assim toda a preocupação com Mary ainda persistiria apesar da castração.

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    1. Sim! Realmente você tem razão, isso não impediria ele de machucar Mary de outras formas infelizmente.

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