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26 de out. de 2017

Livros x Série de TV- Episódio 06: A. Malcolm



Contém spoilers do episódio e dos livros

Episódio 06: A. Malcolm


            O episódio dessa semana tem sido o mais aguardado entre os fãs desde o season finale da segunda temporada. Finalmente, depois de cinco episódios/23 capítulos, o casal de amor (quase) impossível se une novamente. O roteirista de “A. Malcolm”, Matthew B. Roberts, usou como base principal parte do capítulo 24 (A. Malcolm, o mestre-impressor), o qual evidentemente nomeia o episódio, 25 (A casa da alegria) e parte do 26 (Brunch no bordel) de “O Resgate no mar”. Dessa vez, com Claire e Jamie em um mesmo “tempo”, resolvei criar uma estrutura temática para a resenha. Essa ordem está mais próxima a do episódio, portanto, um pouco mais embaralhada em relação a dos livros. 

- A jornada de Jamie: o episódio já começa com cenas que não existem no livro, uma vez que o reencontro entre Jamie e Claire é narrado por Claire no material original, e em “A. Malcolm”, há um pequeno retrocesso temporal em relação ao episódio anterior para contar sob a perspectiva de Jamie como havia sido seu dia antes de Claire aparecer. Ele sai do bordel de Madame Jeanne, onde mantém um quarto, caminha espalhando aquele charme escocês pelas ruas de Edimburgo (tenho que confessar que achei que esse figurino foi um dos que caiu melhor nele, obviamente, o kilt não conta. O traje completo escocês, principalmente o “feile mor” ou “great kilt”, combina mais que perfeitamente com Jamie, é quase uma segunda pele), adentra sua gráfica e o telespectador já tem uma pequena noção que Jamie não está fazendo negócios completamente legais, quando ele entrega panfletos que envolvem algum tipo de traição para serem levados a um colega papista. É logo em seguida que conhecemos quem seria o Geordie, a pessoa com a qual ele confundiu Claire no episódio anterior. O ator que está interpretando Geordie (Lorn MacDonald) encaixou-se muito bem com esse papel, ele ficou hilário e suas caras de nojo e antipatia dão um ar mais cômico ao ambiente da tipografia. Até que um tempo depois que Geordie sai, Claire chega e reencontra Jamie. Essa cena, como mencionei na resenha anterior, ocorre no capítulo 24. Os produtores escolheram repetir parte da cena sob o ponto de vista de Jamie até quando ele desmaia, a partir daí inicia-se o trecho que ainda não havia sido mostrado no episódio anterior. Logo após eles perceberem que são reais mesmo; no livro, eles passam a chorar um nos braços do outro. Jamie, depois, tira os grampos do cabelo de Claire e traça seu rosto com os dedos. Ambos usam um lenço para assoar o nariz e limpam as lágrimas até que Claire o abraça novamente. É quando ela pergunta se ele perdeu algo, e ele responde que ficou com receio de ter se mijado, mas que havia apenas derrubado a cerveja nas calças. Ele se levanta e vai tirar as calças quando se toca da presença de Claire. Ela comenta que ele pode fazer isso na frente dela já que eles são casados, pelo menos, ela acredita que sejam, e ele confirma. Ele olha para as mãos dela e ela diz que nunca tirou a aliança dele. Ele perde permissão para beijá-la, ela concorda e Jamie diz que não faz isso há muito tempo com o qual ela também responde que não. Jamie comenta sobre tê-la visto em sonhos e quando estava com febre, mas que ela nunca o tocava. Claire menciona que agora pode tocá-lo. Jamie então diz a fala que me fez perder algumas batidas do coração “Não tenha medo (...). Agora somos nós dois.” Essa é uma frase que Jamie também havia dito a Claire na noite de núpcias deles. O episódio do casamento na primeira temporada é um dos que eu mais gosto, mas eu tinha um pequeno ressentimento da produção ter excluído essa frase, porque eu acredito que ela passou naquele momento um enorme conforto e segurança para Claire, que estava sozinha e perdida em um tempo e país que não eram seus. Foi uma promessa de proteção. Tanto é que Claire narra no capítulo 15 do primeiro livro, logo após Jamie dizer-lhe isso, que se sentiu “aquecida, acalmada e segura pela primeira vez em muitos dias.” Quando eles se reencontram Jamie faz a mesma afirmação e não apenas o coração descompassou como meus olhinhos brilharam quando eu vi que a produção, dessa vez, inseriu essa declaração dele. Geordie entra e vê a cena de Jamie e Claire se beijando, ele se demite assustado com a depravação do patrão. O diálogo da demissão na série e livros são os mesmos. Jamie, então chama Claire para subir para o outro andar da tipografia com ele, se ela não considerar o ato imoral, e ela o acompanha, mais uma vez de forma semelhante a que ocorre no episódio. Tirando a parte que seguiu Jamie antes de ele se encontrar com Claire, as conversas até aqui entre os personagens no reencontro foram, no grosso, extraídas do livro, o que foi mais modificado, acredito eu, foi o posicionamento corporal dos atores e o modo como as emoções foram expressas em cena. O fato de eles não terem chorado imediatamente quando se encontraram, acho que tirou uma parte da comoção do momento. Isso de certa forma foi um pouco amenizado com a lágrima que Claire deixa escorrer durante o primeiro beijo com Jamie. A falta do choro não foi culpa do roteiro, porque há nele a descrição das lágrimas de Claire tanto quando eles percebem que a presença um do outro é real, quanto no beijo, em que os dois deveriam chorar, mas só Claire o faz. Já vi vários comentários de fãs que não gostaram da intepretação do reencontro e acharam os personagens frios demais para a situação. Eu concordo que algumas cenas ficaram mais “secas” do que deveriam se comparadas com as descrições de DG, por assim dizer, (sendo essa primeira conversa um exemplo delas) mas outras tiveram uma quantidade de emoção que eu esperava. Depois de vinte anos separados, Jamie e Claire eram dois estranhos. A faísca da paixão deles está lá, mas toda chama para se espalhar precisa de combustível e oxigênio, ou seja, ela precisa ser alimentada para crescer. A fagulha existe, e ela foi crescendo com os toques e conversas, mas eles ainda não chegaram naquela fase de amor incendiário que tinham quando se separaram. Eles não têm mais intimidade para isso. Eles não se conhecem mais. E, na verdade, nem o leitor, nem o telespectador conhecem mais Jamie, pois acredito que de forma proposital a autora deixou os anos de Jamie pós- Helwater até o reencontro sem narração. Assim, o leitor teria a mesma sensação de Claire de enfrentar o desconhecido, o mesmo estranhamento. No livro, existiam momentos mais explosivos, porém também havia aqueles de “reconhecimento de terreno” por assim dizer. Acredito que algumas cenas que carregam uma explosão emocional no livro não foram bem interpretadas neste episódio, mas as cenas mais calmas, as que portavam a sensação de estranhamento e distância com uma pitada de deslumbramento foram bem feitas. Foi isso que faltou em “A. Malcolm”: uma melhor dosagem da emoção. Infelizmente, houve interpretações que realmente não funcionaram para mim, e a principal foi a da conversa sobre os filhos, a qual foi a minha decepção neste episódio.





- Sobre os filhos: ainda no capítulo 24, Jamie pergunta sobre o bebê que Claire carregava quando eles se despediram. Ela então fala a ele sobre Brianna. O diálogo é muito similar ao do livro. Ela mostra as fotos e conta emocionada alguns detalhes sobre crescimento da filha. As diferenças foram: Faith, William e a falta de emoção de Jamie. Durante esta conversa, no material original, Faith, a filha que eles perderam na França não é mencionada. Essa foi uma modificação da cena que eu gostei. Jamie e Claire falam de Faith ao longo dos livros, mas isso ocorre poucas vezes (só nesta temporada, na série, eles lembraram mais dela do que nos oito livros publicados). Acho que inseri-la na conversa sobre Brianna foi uma forma respeitosa de lembrar  uma das maiores perdas do casal e também uma maneira de representar a união da família. Já em relação a Jamie falar sobre William neste momento não encaixou tão bem devido às consequências que essa mudança traz e pelo modo como a cena foi interpretada.  Em o Resgate no Mar, Jamie não conta a Claire sobre William nesta conversa. Na verdade, quem menciona William a Claire pela primeira vez é Lorde John, quando ele e Claire se encontram na Jamaica (capítulo 59- quando há grandes revelações) e depois de John já ter contado, Jamie confirma a história. Quando Lorde John conta a Claire sobre Willie é a ele que Claire pergunta se Jamie havia se apaixonado pela mulher, e John diz que acredita que não. O retrato que Jamie carrega de Willie foi entregue por Lorde John a ele, na Jamaica. Eu não gostei dessa mudança por vários motivos dentre eles está a possível modificação da dinâmica inicial do relacionamento entre John e Claire. Quando os dois se conhecem, e Claire percebe que Lorde John não apenas é apaixonado por Jamie como é pai adotivo de seu filho; e, no mesmo contexto, John descobre que Claire era a esposa a quem Jamie nunca deixou de amar, surge um sentimento de rivalidade, que é atrativo e intrigante de se ler. Ao longo dos livros, John e Claire acabam tornando-se amigos devido ao amor que tem por Jamie e passam a ser respeitar, mas essa relação é algo que é gradativamente construída, e o sentimento de ciúmes um do outro que surge quando eles se conhecem é meio que o alicerce para o que estar por vir. Eu não sei como a temporada vai se desenvolver e se os produtores vão acrescentar outras coisas para criar essa dinâmica entre eles, mas espero que não modifiquem o desenvolvimento do relacionamento entre esses dois personagens. Além disso, se Sam (Jamie) tivesse interpretado a cena com a emoção que Jamie expressa no livro ao olhar para as fotos de Brianna, o incômodo da inserção de Willie teria sido menor, uma vez que a comoção do personagem na cena foi mais “contida” que no livro. No capítulo, quando Jamie vê as fotos da filha, suas mãos tremem e ele precisa da ajuda de Claire para segurar os retratos, enquanto derrama lágrimas pela criança por quem ele fez um dos maiores sacrifícios da sua vida.

Suas mãos tremiam tanto que ele não conseguia mais segurar as fotos; tive que mostrar-lhes as últimas (...). As fotos mostravam seu rosto em todos os estados de espírito que eu pude captar, sempre aquele rosto, nariz reto e comprido, boca larga, com aquelas maçãs do rosto viking, altas, largas e lisas, e os olhos rasgados – uma versão mais delicada, de ossos mais delgados, de seu pai, do homem que se sentava na cama ao meu lado, a boca abrindo-se e fechando-se sem emitir nenhum som, e as lágrimas rolando silenciosamente pela própria face.
 Espalmou a mão sobre as fotografias, os dedos trêmulos apenas roçando as superfícies lustrosas, depois se virou e inclinou-se em minha direção, lentamente, com a graça improvável de uma árvore alta caindo. Enterrou o rosto em meu ombro e desmoronou completamente.

Outra divergência é que logo no início da cena das fotos em O Resgate no mar, Claire dá a Jamie o beijo que Brianna mandou para ele, isso foi cortado da série. A falta de emoção na adaptação não foi culpa do roteiro, as lágrimas foram colocadas no contexto da interpretação, mas o ator Sam falou em entrevista para EW que achou que ficaria muito “melodramático” construir a cena dessa forma e a mudou. O argumento dele era que um pai que não conhecia a filha não iria chorar pelas fotos. Outro pai talvez não, mas Jamie Fraser sim. Um homem que tem a história de vida marcada pelo sofrimento, pela ausência, pela solidão, pelo exílio... acima de tudo, um homem que foi pai mas que nunca pode criar nenhum de seus filhos biológicos pelo próprio bem deles, que passou duas décadas sofrendo pela perda da família que ele mandou para longe para proteger, não iria apenas chorar, iria desmoronar e tremer como no livro. Não era só a filha que ele acreditava que nunca iria conhecer naquelas fotos, é a simbologia de que toda dor e sacrifício valeram a pena: o nariz quebrado, seis anos morando numa caverna, três anos em uma prisão, mais alguns anos no exílio na Inglaterra trabalhando como servo, vinte anos ardendo por uma mulher que ele nunca conseguiu esquecer e rezando pela segurança dela e do filho que ele mandou para ser criado por outro homem. Toda essa vida de penitência foi para que Claire e Brianna vivessem seguras, e o ator vem e diz que chorar pelas fotos seria “melodramático”. Até parece que ele esqueceu tudo o que ele havia interpretado até aquele momento e pensou só naquela cena fora de contexto. Segue a descrição do roteiro:

Claire mostra a ele as fotos novamente, e Jamie rapidamente é dominado pela emoção. Enquanto ele olha as fotografias de Brianna – como qualquer novo pai faria – Jamie desmorona completamente, caindo nos braços de Claire, lágrimas escorrendo pelas suas bochechas. Após um pedaço ele se recupera, levanta sua cabeça – (tradução minha)”

Depois de um episodio anterior majoritariamente dedicado ao laço entre mãe e filha, fiquei surpresa de que a paternidade de Jamie fosse tratada de uma forma tão banal. Até que eu vi que o problema não foi o roteiro, e sim a liberdade artística do ator. A combinação dessa descrição do roteiro com o episódio anterior (neste quesito) faz muito mais sentido do que a forma como a cena foi conduzida por Sam.

O capítulo é concluído com a lembrança de Jamie que tinha que se encontrar com o Sr. Willoughby e convidando Claire para ir com ele. No episódio, ele só diz que precisa ir a taverna, quem menciona o Sr. Willoughby é Fergus quando eles se encontram no caminho para The World’s End . No livro, Claire só encontra Fergus no dia seguinte no bordel (capítulo 26), mas a fala dele é em parte semelhante a retratada na TV. Imagino que eles modificaram a ordem das cenas para que todos os filhos ficassem em um mesmo seguimento, já que Fergus é filho adotivo de Jamie. Uma divergência em relação à aparência de Fergus é que ele usava um gancho no lugar da mão perdida, e, não, uma prótese de madeira. Eu não entendi essa mudança, uma vez que o gancho seria mais útil para “pegar” coisas, não vejo vantagem na prótese a não ser decoração. Mas ainda temos uma temporada inteira pela frente onde pode surgir alguma explicação para isso. Ademais, quando Claire encontra Fergus na série, ela diz que estava vivendo na América; no livro, ela informa a todos (exceto Jamie) que tinha ido viver na França. Eu tinha ficado com o pé atrás em relação ao ator escolhido para interpretar Fergus mais velho (César Domboy) e confesso que a primeira vez que eu assisti ao episódio ele ainda não tinha se encaixado completamente no que eu esperava do personagem; mas, da segunda vez em diante, eu comecei a ter uma mente mais aberta e acredito que ele tenha potencial.

- O quarto no bordel: depois da taverna, onde Claire conhece o Sr. Willoughby (Gary Young), o chinês sócio de Jamie, Claire é conduzida pelo marido ao bordel de Madame Jeanne. Antes de adentrar no cômodo favorito do episódio, vou abrir um parêntese para comentar sobre como o Sr. Willoughby foi retratado na série. No livro, o Sr. Willoughby é descrito como meio que um pervertido sexual (com uma fixação por pés). Inicialmente, aparece no episódio, o fato de ele ter lambido o cotovelo de uma prostituta sem pagar o que devia, isso foi o único ponto sexual que foi apresentado. No livro, surge uma discussão em que uma moça o acusa de fazer algo ofensivo a ela, não menciona exatamente o quê; e Jamie, Claire e o pequeno chinês, o qual estava muito bêbado por sinal, são obrigados a fugir do recinto. No episódio, Jamie paga a dívida do seu sócio e deixa Claire aos cuidados dele enquanto sai para resolver questões relacionadas ao seu negócio de contrabando. O que se segue é que Claire e o Sr. Willoughby tem uma conversa interessante sobre a vida dele e como ele e Jamie se conheceram, informações no geral, que foram extraídas de conversas de Jamie e Claire do livro, já que o Willoughby quase não falava inglês no material original. O destaque é que pelo menos, por enquanto, ele não foi mostrado como um personagem exageradamente sexualizado, nem a relação com Jamie parece ser cheia de ofensas e gritos como é no livro. Uma das produtoras-executivas da série, Maril Davis, deu uma entrevista para PopSugar onde comentava sobre o Willoughby. No teor do texto, o redator menciona que para muitos leitores, o personagem era um “conjunto de estereótipos chineses” e, Maril afirma que gostava muito dele, mas que “havia coisas ofensivas no livro” em relação a ele.  Assim, os produtores modificaram o personagem um pouco, tirando o seu vício sexual para torná-lo mais politicamente correto, em vez de cortá-lo completamente, pois seria uma grande perda. Não vejo isso como algo necessariamente ruim, nem bom; tudo vai depender de como o personagem será trabalhado ao longo do resto da temporada. Compreendo que ao passar o Sr. Willoughby das páginas do livro para o audiovisual da série, os produtores entenderam que retratar um asiático estereotipado pudesse ser ofensivo para determinado público, mesmo que ele fosse descrito assim no material original. A adaptação televisiva tem um maior alcance que os livros, e ver algo é sempre mais chocante que ler. Sem contar que “O Resgate no Mar” foi escrito nos anos 90, enquanto a série está sendo transmitida quase vinte anos depois. A visão das pessoas em relação a determinados temas mudou. O Sr. Willoughby dos livros é um personagem muito interessante, ele acaba dando a Claire os conhecimentos sobre acupuntura, por exemplo, que ajudam a diminuir o enjoo de Jamie na travessia do mar. Ele é alguém que tem sua sabedoria, mas também é portador de muitos defeitos. Eu acredito que na nossa sociedade contemporânea, determinados estereótipos de personagem simplesmente não funcionem na mídia televisiva e poderiam trazer publicidade negativa. Foi uma escolha segura e se bem trabalhada pode ter sido realmente muito boa.  O casting do ator foi maravilhoso, e o neozelandês Gary Young caiu como uma luva no personagem.

O núcleo do episódio acontece no quarto do bordel, quando Claire e Jamie tem seu reencontro sexual e conversam sobre suas vidas, tentando recuperar a intimidade perdida. Muito deste seguimento de cenas é espelhado no episódio do casamento, mas isso também ocorre no livro. Os diálogos trocados dentro do quarto são bem semelhantes aos do capitulo 25 (a casa da alegria), com alguns acréscimos e trocas de ordem. Até mesmo as narrações de Claire nesse trecho foram em maioria retiradas diretamente deste capítulo. A cicatriz na perna de Jamie é vista por Claire, mas ela é descrita de uma forma muito mais grotesca de como foi desenhada na série de TV.  Ainda mais porque ela não era resultado apenas da baioneta, mas também de Jenny ter cortado a perna dele até o osso para lavar com água fervente o ferimento para impedir a gangrena. Eles conversam sobre a cicatriz logo depois de Jamie dedilhar as estrias de Claire antes de fazerem sexo (na adaptação, as estrias não são mencionadas, apenas a cicatriz de Jamie, e isso é feito após o sexo)

“A cicatriz estendia-se do meio da coxa até perto da virilha, vinte centímetros de tecido esbranquiçado e esgarçado. Não pude conter uma exclamação sufocada diante da aparência da cicatriz e cai de joelhos ao lado dele.
Encostei a face sobre a coxa, agarrando sua perna com força, como se fosse cuidar dele agora – como eu não pudera cuidar na ocasião. Eu podia sentir a pulsação profunda e lenta do sangue através da artéria femoral sob meus dedos – a menos de dois centímetros do horrendo sulco daquela cicatriz contorcida.
- Não a assusta nem revolta seu estômago, Sassenach? – ele perguntou, colocando a mão em meus cabelos. Ergui a cabeça e fitei-o intensamente.- Claro que não!- Sim, bem. – Estendeu o braço e tocou minha barriga, os olhos presos aos meus.- E se você carrega as cicatrizes das suas próprias batalhas, Sassenach – disse ternamente - , elas também não me incomodam.”

O pedido que Claire no início da cena de sexo deles para que ele não fosse gentil, no livro é apenas um pensamento dela, pois devido ao medo e nervosismo que ainda sentiam um do outro, ela não conseguia expressar isso em palavras. A coreografia desse primeiro ato sexual deles também foi semelhante a do livro, ele bate a cabeça no nariz dela, ele pergunta se ela se machucou, e ela afirma que acha que quebrou o nariz, e Jamie faz a descrição de como seria a quebra dessa parte do corpo. Ele pede a boca dela antes de começarem efetivamente a fazer sexo, logo após a batida do nariz; no episódio, isso ocorre durante o ato sexual.




O casal conversa após o sexo, o conteúdo é muito similar ao do livro. Claire descobre que Jamie é um contrabandista além de tipógrafo, ela também brinca de adivinhar sua profissão escondida por acreditar que devido à forma física de Jamie, ele não fosse apenas um impressor.
A cena em que ela pergunta se ele se sentiu daquela forma na primeira vez que eles se deitaram (logo após de Jamie descrever as belezas do corpo dela, e como ele não conseguia parar de tocá-la) e ele diz “Sempre foi para sempre para mim, Sassenach!” pareceu estranha para mim. São frases do livro, mas elas ficaram soltas e acredito que para alguém que não os tenha lido, uma sequência de sentenças não completou a outra, como se tivesse algo que foi cortado no meio.

“- Eu estava com mais medo agora do que na noite do nosso casamento – murmurei, os olhos fixos na pulsação lenta e forte na base de sua garganta.- Estava?- Seu braço mudou de posição e apertou-se com mais força ao meu redor. – Eu a assusto, Sassenach?- Não. – (...)- É que... na primeira vez... eu não achava que seria para sempre. Na época eu pretendia ir embora.(...)- E você realmente foi embora e voltou outra vez- ele disse. – Você está aqui, nada mais importa além disso.
(...)- O que você pensou na primeira vez que dormimos juntos? – perguntei. Os olhos azul-escuros abriram-se devagar e pousaram em mim.
-Comigo, desde o começo foi para sempre, Sassenach – ele disse simplesmente.”

Acho que o fato de terem tirado a fala de Claire anterior a essa resposta dele ficou um pouco fora de contexto na cena (apesar de eu estar muito feliz de eles terem incluído essa citação linda).
Durante a noite, eles fazem amor novamente só que de uma forma mais terna e carinhosa, como aparece na série e depois ela pergunta novamente sobre a cicatriz e eles conversam sobre Brianna.
Eu senti falta da mudança no modo como se pronuncia “Brianna”. No livro, comenta-se que os escoceses diziam “Brianna” com uma sonorização diferente. Sempre imaginei como seria, pois a mera descrição não conseguiu cumprir esse papel. Na série, eu não percebi diferença na pronúncia.
No capítulo 26, Claire acorda no outro dia, vê Jamie no urinol (na série, ele está observando ela dormir). Eles conversam, analisando as diferenças um do outro e falam sobre a pergunta que Jamie havia feito no passado sobre o que existia entre eles. A citação é colocada quase literal como no livro, entretanto, no capítulo, logo em seguida eles falam também sobre Brianna e a cicatriz novamente. Ele conta a ela como se entregou aos oficiais ingleses quando morava na caverna para que seus arrendatários recebessem o valor da recompensa, nesta conversa mais uma vez se fala sobre Brianna. Senti falta disso no episódio também. Eles falaram sobre a filha basicamente em um momento. No livro, a conversa no quarto constantemente volta a ela.

Logo em seguida, no livro, Ian (pai) aparece no quarto à procura de Ian (filho), o que neste episódio não aconteceu ainda. Ian (pai) antes de ver o rosto de Claire achava que ela fosse uma prostituta com quem Jamie estava dividindo a cama. Jamie afirma que não viu o jovem Ian (o que saberemos mais à frente ser uma mentira), mas sai para procurá-lo, além de precisar resolver seus negócios. Na série, a saída de Jamie é apenas para negócios, já que os Ians não apareceram ainda. Como no livro, Claire havia rasgado seu vestido na confusão da taverna, ela precisava esperar que Madame Jeanne lhe fornecesse um novo antes que pudesse sair do bordel, e não poderiam acompanhar Jamie.

- O encontro com jovem Ian/ Claire, a prostituta: um tempo depois da saída de Jamie, jovem Ian aparece no quarto a procura do tio, conhecendo, assim, sua tia Claire. Entretanto, à primeira vista, ele acredita que Claire seja uma prostituta que esteja acompanhando seu tio. No capítulo, Claire conta ao jovem Ian que Jamie saiu buscando ele juntamente com seu pai, o que assusta o menino e o faz achar que o pai já usufruiu dos serviços de Claire. Ela pergunta a idade dele, que afirma que tem quase quinze. Mas Claire ainda não conta quem ela é. O fato do jovem Ian não descobrir que Claire é sua tia ainda torna os seus encontros mais engraçados; infelizmente, na série de TV, Claire logo se apresenta a ele. No capítulo, quando jovem Ian sai do quarto, entra o Sr. Willoughby (isso foi cortado da série). Claire vai para o salão em busca de comida onde encontra com as meninas de Madame Jeanne que acham que ela seja uma recém–contratada da cafetina. A conversa que se segue é bem semelhante a mostrada na adaptação, a diferença é quando Madame Jeanne a encontra, no livro, a leva pra arrumar um vestido, mas também fica chateada por Claire está conversando com suas prostitutas, tendo medo que Jamie ache isso ofensivo. Na série, Madame Jeanne despacha Claire para o quarto com a promessa de mandar comida para ela. No capítulo, após a prova da roupa, Claire volta ao salão, onde mais uma vez, é confundida como sendo uma prostituta por um rapaz, que parece ser um guarda alfandegário, em busca de arrancar mais dinheiro de Jamie. Na série, ao retornar ao quarto, Claire dá de cara com um homem vasculhando as coisas de seu marido, e o episódio acaba nesse suspense da nova enrascada que Claire se meteu.

Esse foi, acredito eu, o primeiro episódio das três temporadas que não achei a atuação de Sam, primorosa. Não digo que estava ruim, longe de mim, mas comparado a tudo o que ele vem mostrando ao longo das três temporadas de Outlander, eu esperava uma tsunami, e ele apresentou uma marola. Caitriona, no entanto, atingiu próximo ao alvo, mas o fato em si de Claire saber de antemão que iria se encontrar com Jamie, ou seja, já estar psicologicamente preparada para essa reunião retirava dela um peso emocional maior. Também achei que a produção poderia ter trabalhado melhor a trilha sonora dessa vez, em especial, nas cenas do quarto. Mesmo que as músicas fossem semelhantes as do episódio do casamento, o reencontro tem uma carga emocional que não existia nas bodas, consequentemente, a trilha sonora deveria refletir isso. Não digo que deveriam introduzir necessariamente algo estranho a série, mas talvez utilizar parte da “dance of druids” ou uma versão alternativa dela, que tenha batidas fortes, ou uma remixagem das músicas próprias da série ou até mesmo das músicas que eles usaram, mas que acentuasse um choque auditivo que se encaixasse com o visual e com o sentimento do momento. No mínimo, tornar a música utilizada mais alta e mais sincronizada com os movimentos dos atores. Por exemplo, a cena em que eles tiram a roupa um do outro estava tão lenta que foi enfadonha, se eles tivessem conseguido colocar por cima o ritmo certo daquela música ou de alguma outra com o estilo de Outlander... nenhuma cena fica monótona, não importa quão lenta seja, com a trilha sonora correta para ela.  O roteiro estava, no geral, ótimo, o que faltou foi o arrepio. Se eles tivessem conseguido brincar melhor com o jogo de imagens e música nesse momento, o encaixe seria perfeito.




Jamie e Claire são novamente desconhecidos. Enfrentaram fome, guerra, morte e o tempo, mas retornaram aos braços um do outro. Black Jack se foi, mas ele não era o único vilão que perturbava a felicidade do casal; o tempo sempre foi um grande protagonista nesta história, um gigante que os amedrontava. Passado, presente e futuro não existem mais para eles, nunca existiram, nunca existirão. Só há o amor. E o que quer que a vida lhes traga, "ele se basta".

“O tempo não importa, Sassenach.”


Por Tuísa Sampaio 

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18 comentários:

  1. Menina que post maravilhoso ❤ Nossa, e essa falta de sentimentos foi propósito por Sam,que decepção! O episódio realmente não foi ruim, mas teve muitas falhas. Exageraram na frieza, é claro que 20 anos se passaram, mas ao reencontrar o amor da minha vida a última coisa que iria me preocupar era se minha calça estava molhada e dar de ombros, ou não derramar uma lágrima ao ver a linda filha crescida da qual ele fizera o maior sacrifício de sua vida. Espero que os próximos não decepcionem tanto quanto esse, e que a sensibilidade de Sam heughan não o faça fazer bobagem novamente.

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  2. Ameiiiii essa resenha crítica!
    Realmente senti a mesma coisa, apesar de não ter lido os livros...senti meio vago essa parte do Jamie, e ficou parecendo que ele tem muitas coisas pendentes (erradas) que transpassou medo/receio com a Volta de Clarie.
    Estou louca para comprar os livros e acompanhar de uma forma mais completa. =)

    Paty Libanio

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    1. Que bom que vc amou! Compre mesmo, os livros são muito bons! :*

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  3. Mais uma excelente resenha e mais uma em que concordo com tudo!

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  4. Oi Tuisa... só nessa madrugada consegui finalmente assistir a esse encontro tão esperado.. (e claro só fui dormir depois de ler sua resenha)... mas confesso que não consegui me conectar, como eu esperava, ao momento do reencontro... talvez porque já eram 2:00 da manhã depois de uma sexta exaustiva de trabalho e eu estava cansada... mas acho mesmo que eu estava com expectativas muito altas.. ainda mais por ter esperado quase 3 semanas pra viver junto esse encontro de almas.. - só assisto a série na madrugada de sexta ou sábado da semana seguinte, meu único momento “meu” depois que marido e filhos (8anos e 2anos) estão dormindo... não dá pra ver Outlander com crianças correndo pela casa gritando e o marido ali do lado né! rsrsrsr - ... enfim.. como eu estava dizendo.. o encontro não foi tão... .... mágico.... como eu imaginei que seria.. não suspirei como aconteceu em cenas muito menos intensas (teoricamente).. pelo menos não consegui sentir isso na serie.. mas pelo que acompanho de suas resenhas pelo livro o encontro foi muito mais intenso que o mostrado.. não pela Caitriona.. ela soube repassar através de seus olhos cada pulsar acelerado do coração de Clair ao rever Jaime... mas concordo com vc quando diz que Sam falhou um pouco.. não diria em todas as cenas.. mas algumas.. ele (Sam) me pareceu distante de Jaime.. achei esquisito, o pouco interesse que mostrou pela filha...afinal ele abdicou do amor de sua vida pela segurança da filha também certo? Também acho que Sam errou ao não chorar ao ver as fotos dela.. pareceu feliz, mas sem muita emoção.. frio, até.. nem parecia que estava vendo pela 1 vez o rostinho da filha tão amada que teve com o seu grande amor.. e ainda mostrou muito mais entusiasmo ao falar de Willie, que teve com uma mulher que se deitou obrigado 1x (pelo menos só apareceu 1x na série.. afinal, o que diz no livro? Teve outros “encontros”?🤔... do que por Brianna, que inclusive não foi mais mencionada.. imaginava que ele teria milhões de perguntas sobre a filha.. pode até ser que tenham falado dela quando jantavam, quando foi narrado por Clair que conversaram sobre o que viverem quando estavam separamos, mas poderiam, ao fazer esta narração mencionado que falaram muito sobre ela.. me pareceu como se ela estivesse sido algo sem importância suficiente para ser comentado (ao contrário do livro)... até achei legal dele ter sido honesto e contado sobre o filho.. e poderia até ter contado com o mesmo entusiasmo à Clair, afinal ele conviveu com o garoto nos 1os anos da vida dele, de certa forma, foi uma convivência vivida de pai e filho... mas isso poderia esperar até o próximo episódio não poderia? Aquele momento era sobre a filha deles.. ficou claro no rosto da Clair o desapontamento dela ouvindo ele falar com mais interesse do filho do que da filha...
    enfim.. acordei cedo hj e quiz assistir novamente para vê se conseguia sentir algo diferente.. mas as crianças logo acordaram rsrsrs.. o replay vai ter que ficar pra depois 😊
    Obrigada pelas suas resenhas.. nos ajuda muito a entender melhor os acontecimentos e a aprender mais sobre a história dos personagens.. principalmente para quem não leu os livros, (ainda) como eu.
    E ate para ter com quem dividir meus comentários!
    😘

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    1. Eu que agradeço! Em relação a Geneva e Jamie: no livro, eles só estiveram juntos sexualmente aquela noite mesmo, durante a qual a descrição dá a entender que eles fizeram sexo mais de uma vez. :*

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  5. Fiquei decepcionada com o episódio, especialmente com esse reencontro que o produtor disse que seria "épico". Não foi épico no livro mas foi menos épico ainda na TV. Você descreve muito bem as cenas onde Jaime e Claire parecem 2 estranhos. Sim, verdade que 20 anos os distanciariam, mas ainda assim, achei que faltou romance, empatia, saudade. Jaime pareceia mais empolgado falando da Claire quando ela estava longe do que está agora com ela de volta..algumas coisas mesmo, sem pé nem cabeça, tanto no livro como na TV. Jaime parece muito preocupado em mostrar que tudo mudou, parece que está justificando as merdas como o fato de levar a Claire para um bordel em sua primeira noite juntos depois de tanto tempo. Porra, sério? Eu teria brochado. Ainda não tinha lido essa parte no livro, mas fico pensando "que porra que a autora estava pensando com essa cena?". Enfim, tô esperando voltarem a ser como eram nas primeiras duas temporadas. Sei que após 20 anos, não será exatamente igual, mas não precisava ser tão estranho. No mais, qual é a das idades? Nenhum dos 2 parece 20 anos mais velho. Fergus não parece ter quase 30. Aquele ator parece ter uns 20. O Ian filho sequer conheceu a Claire, para quê dar tanta importância ao encontro da Claire com ele na TV? E essa história de manter sempre a sombra de um carrasco sexual na vida de Jaime. Tudo bem que ele é um gostoso, mas sempre tem que ter um homem apaixonado por ele? E isso agora vai virar um triângulo amoroso? Decepcionante até o momento, tanto o livro quanto a versão pra TV. Acho que a autora perdeu a mão, como é muito comum em séries tão longas. Vamos ver onde vai dar isso, porque até agora, me parece que a terceira temporada e o livro em questão, serão um baita banho de água fria em tudo que foi até agora.

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    1. Eu tenho esperança, principalmente porque a parte da aventura desse livro é muito boa :D

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  6. Oi! Obrigada por sua resenha! Eu fiquei extremamente decepcionada com e episódio e por consequência com toda a série, tanto que desisti de acompanhar irei ficar com o livro para não passar raiva!

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  7. Saudade.. engraçado.. pensei a mesma coisa enquanto via o episódio.. ambos pareciam mesmo que sentiam muito mais um pelo outro enquanto separamos.. fiquei esperando um “senti sua falta”, falta do seu toque, do seu beijo.. sei lá.. rsrsrs

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  8. Oi Tuísa! Quanta decepção! Esperava um reencontro ardente, com muita paixão, saudades, lágrimas, beijos e jogaram um balde de água gelada com tanta frieza e falta de emoção! Acho que "perderam a mão" nesta temporada e principalmente neste episódio. Entendo que 20 anos é um longo tempo que causa claro um certo desconforto mas pra quem não tinha conseguido esquecer um ao outro e nem seguir em frente na vida amorosa, era de se esperar mais né? Beeem mais. Não consigo entender porque tanta mudança no ponto forte da série que era justamente o relacionamento desse casal.. Enfim, esperar pra ver se eles retomam o amor de antes né? Beijao

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  9. Concordo.. faltou paixão como a Tuisa mesmo falou..

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  10. Desejei e imaginei tanto esse episódio....sofri junto com a separação do casal....chorei em sentir a dor da realidade que o tempo é implacável...mas quando Claire resolveu deixar sua amada filha para seguir ao encontro de Jaime, imaginei que seria um momento único, um reencontro de almas que se amam.... mas o que assisti foi realmente um banho de água fria. O distanciamento do Jaime...sua preocupação com a calça molhada...sei lá.... foi frustrante.

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