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20 de jan. de 2016

Os Temas de Outlander por Diana Gabaldon


Os textos que você vai ler foram escritos por Diana Gabaldon, aonde ela comenta sobre cada um de seus livros e o significado de cada um deles. Estes textos podem ser lidos em inglês no seu famoso Compendium, o The Outlandish Companion. A tradução foi feita pela equipe Outlander Brasil.


Os textos abaixo contém spoilers. Se você não gosta de spoilers, veja apenas dos livros que você já leu.

A viajante do tempo - Amor

Enquanto meus livros são frequentemente classificados como (por pessoas sem saber do que chamá-los) romances românticos, eles não são. Entretanto, A viajante do tempo é, de fato, o único que tem a estrutura necessária para ainda passar como romance romântico. Isto é, é uma história de um namoro; seu mecanismo central preocupa-se com a união de duas pessoas em uma (teoricamente) permanente união monogâmica. Além disso, contudo, explora a natureza do amor sobre uma série de níveis e em uma variedade de contextos.

Nós temos o conflito de Claire sobre (verdadeiramente) amar dois homens. Temos o amor de Jamie por seu pai, sua irmã, e seu lar, e o amor de Murtagh por seu afilhado. Nós temos o amor profundamente conflituoso entre os irmãos MacKenzie. Temos o amor dos membros do clã um pelo outro, seu Laird e seu lar. Temos as emoções muito complicadas do Capitão Jack Randall, embora se alguma delas constituem amor, ou meramente obsessão, é um assunto para o leitor decidir. E temos o Amor Divino, no qual Claire mais ou menos tropeça em um ato de desespero. Mas quase todo relacionamento no livro descansa no amor e a história inteira como uma prova do poder do amor.




A Libélula no Âmbar - Casamento 

Este livro lida, principalmente, com o desenvolvimento de um casamento específico- o de Claire e Jamie- mas ao longo do caminho se observa vários outros relacionamentos e combinações que exploram o conceito. Temos o casamento arranjado de Mary Hawkins e o idoso e verruguento Visconde Marigny. Temos os casamentos de classe e conveniência sem amor, porém pragmáticos vistos na Corte Francesa e os casos eventuais e egoístas que contrastam tão fortemente com o senso de compromisso e abnegação no coração de um bom casamento. Mais tarde nós vemos o amor condenado entre Mary e Alex Randall, e o casamento pragmático entre ela e Jack Randall (baseado no amor de Jack por seu irmão, ao invés de por Mary). Vemos a culpa de um casamento rompido e remendado na recomeço das relações de Claire com Frank e a paz de um casamento duradouro, profundamente comprometido entre Jenny e Ian em Lallybroch, e apreciamos as várias ameaças que há nesses vínculos sociais e como as pessoas sustentam um casamento, ou não.




O Resgate no Mar - Identidade

O Resgate no Mar tem muita aventura, mudança de tempos e lugares, busca de destino e assim por diante, mas o tema basilar é a busca de uma pessoa por identidade e como se definir, aos seus próprios olhos, ou nos dos outros, ou nos da sociedade no geral. Pelo casamento, pela carreira, pela vocação- ou pelo reconhecimento da sua própria essência de ser. Você vê isso organizado mais visivelmente (claro) na história de Claire e Jamie, primeiro conforme ela busca o marido que ela perdeu e por quem anseia e então conforme eles buscam por um desembarque seguro e um lugar que possam sobreviver juntos.

A metáfora contínua encontrando seus nomes: Jamie tem cinco para escolher, mais um título mais vários apelidos e ele vive sob uma variedade de noms de guerre (frequentemente baseados literalmente de guerre) ao longo do livro, em resposta a sua mudança de funções e de quem está atrás dele no momento. Claire, claro, saiu de Beauchamp, para Randall, para Fraser, para Randall e agora está prestes a ser novamente Claire Fraser, ou será Sra. Malcolm? Ou talvez Madame Etienne Marcel de Provac Alexandre? (Simbolizando a ligação do seu destino com o de Jamie, sim?). Como Jamie conta a Claire no meio do livro,

—Durante tantos anos —ele disse— por tanto tempo, eu fui tantas coisas, tantos homens diferentes. — Senti que ele engolia em seco e ele remexeu-se um pouco, o linho de seu camisão farfalhando de goma. —Fui tio para os filhos de Jenny e irmão para ela e Ian. ‘Milorde’ para Fergus e ‘Senhor’ para os meus colonos. ‘Mac Dubh’ para os homens de Ardsmuir e ‘MacKenzie’ para os outros empregados em Helwater. Depois, ‘Malcolm, o mestre-impressor’ e ‘Jamie Roy’ nas docas. — A mão acariciou meus cabelos, devagar, com um som sussurrante, como o vento do lado de fora. —Mas aqui —ele disse, tão baixinho que mal podia ouvi-lo —aqui no escuro, com você... eu não tenho nenhum nome.

Eles dois adotam, descartam e adaptam funções conforme vão de um bordel em Edimburgo, a Lallybroch, ao Caribe, e por último lançados à praia por um furacão, para a América. Lá, despojados de tudo, exceto um do outro, Jamie finalmente recupera e reapresenta sua identidade, quando ele se apresenta a um salvador: 'Meu nome é Jamie Fraser... E essa é Claire... Minha esposa.




Os Tambores de Outono - Família

Se A Libélula no Âmbar lida com o estabelecimento e crescimento de um casamento, Tambores faz o mesmo com o conceito de família e sua importância na vida de uma pessoa. Uma das maiores noções, desenvolvida ao longo dos livros, é que uma família não consiste apenas de pessoas que compartilham DNA, nem uma família deixa de ser importante, se seus membros estão separados, ou mortos. A família de Claire e Jamie, conforme eles estabelecem-se na Carolina do Norte consiste em Fergus e Marsali, o filho deles, Germain e o sobrinho de Jamie, Ian, assim como Brianna, a filha que Jamie nunca viu.

Quanto a essa filha, seu choque ao saber da verdade de sua paternidade a conduz a achar sua família e arriscar tudo para salvá-la, enquanto Roger MacKenzie Wakefield (nascido Mackenzie, mas adotado por seu tio-avô) arrisca tudo por causa dela, e torna-se sua família, também, juntamente com seu filho, Jeremiah (que pode ou não ser de Roger, mas o qual Roger reivindica firmemente como seu).
Qaundo Brianna escreve no seu bilhete para Roger, anexo com a prataria da sua família, fotos e recordações: “Todo mundo precisa de uma história... Esta é a minha.



A Cruz de Fogo - Comunidade

A Cruz de Fogo continua o senso de “construção” dos livros, do namoro, ao casamento, à família e agora à formação de uma comunidade, conforme Jamie reivindica seu destino original como laird e líder, sustentáculo e protetor de uma comunidade. Vimos fazer isso (brevemente) em Lallybroch e então durante os anos depois de Culloden, quando ele liderou os prisioneiros em Ardsmuir, e os manteve (na sua maior parte) sãos e vivos ao forjá-los em uma comunidade. Jamie foi sempre definido (para ele mesmo, assim como para o leitor) pelo seu forte senso de responsabilidade e aqui nós o vemos em pleno funcionamento, conforme ele junta arrendatários para sua terra, Fraser’s Ridge, com a ajuda (e obstáculo ocasional de arrepiar os cabelos) dos viajantes do tempo de sua família.

Assim como em qualquer história que vale a pena, a autodefinição de um protagonista (quer seja uma pessoa ou um grupo) é um processo tanto de descoberta, como de conflito. Pedras no caminho, oposição e perigo são as ferramentas que a natureza usa para esculpir uma personalidade marcante da pedra nativa. E assim nós vemos não apenas a formação da comunidade de Fraser’s Ridge (um paralelo e microcosmo da América emergente), mas a luta individual de Jamie, Claire, Brianna, Roger e outros para se encaixarem no seu ambiente em mudança, e preservar suas próprias identidades e descobrir suas vocações no processo.




Um Sopro de Neve e Cinzas - Lealdade

Estou tentada a dizer que o tema de uma única palavra desse livro é “sobrevivência”, mas os meios pelos quais tantas pessoas sobrevivem às vicissitudes de um mundo girando fora de controle é realmente um tema melhor, eu acho. Nesta instância, nós exploramos a lealdade feroz de Claire e Jamie um com o outro e com sua família. Mas além de lealdade as pessoas, lealdade as ideias e ideais é uma coisa enorme nessa época da História da América e o conflito dessas lealdades é paradoxalmente tanto a causa de fratura social, como dos meios de sobrevivência, quando o mundo está em colapso.

Nós vemos outras formas de lealdade em trabalho, a lealdade da ganância e autoproteção, entre a gangue de Brown e o bando de saqueadores de Hodgepile; a lealdade à tradição e aos líderes entre os Cherokee; a lealdade ao Rei, país e regimento mostrada por John Grey, e a lealdade da amizade, como vemos entre Lord John e Jamie.
E, em última análise, nós vemos a lealdade e amor dos pais, que farão qualquer sacrifício para o bem de seus filhos e o futuro.



Ecos do Futuro - Nexo

O ícone na capa da edição americana desse livro é um estrepe, uma arma militar que data à época dos Romanos. O ícone na capa da edição do Reino Unido é um esqueleto de folha, mostrando a superioridade do departamento de arte de Orion em relação aos meus próprios instintos, mas incorporando o mesmo conceito basilar: as ligações complexas e frágeis entre pessoas, períodos e circunstâncias.

O livro segue quatro histórias principais, as quais se conectam de forma maior e menor e, dependendo de qual imagem de capa você prefere, revela a importância e resiliência de tais conexões em tempos de guerra e conflitos pessoais ou mostra as veias subjacentes de nutrição e sustento entre as pessoas que as mantém inteiras apesar dos estresses da passagem do tempo.
Como com Um Sopro de Neve e Cinzas, EU considerei um tema alternativo de uma única palavra, neste caso, “mortalidade”. Não morte, como tal, mas uma realização da natureza finita da vida e o que isso faz as pessoas. Esse era um conceito muito mais difícil de pôr em uma capa, entretanto.



Written in My Own Heart’s Blood (Tradução livre: Escrito com o Sangue do Meu Próprio Coração) – Perdão

Se a palavra de Eco era “nexo”, os leitores mais perspicazes estão provavelmente esperando que a de MOBY seja “espaguete”, ou, possivelmente, “polvo”. Entretanto, não é. É “perdão”, tanto a doação deste bálsamo, como a recusa de perdoar e o que a doação e a recusa fazem tanto aos doares, como aos beneficiários em ambos os casos.

Vemos esse conceito em operação entre os personagens principais- particularmente no que diz respeito à reação de William a descoberta de sua verdadeira paternidade e no que diz respeito aos esforços de Claire em lidar com conhecer o homem que a estuprou e sua reação com o que Jamie faz em relação a isso. Mas também o vemos em passagens menos importantes, lidando com personagens incidentais. A Sra. Bradshaw e a escrava Sophronia, por exemplo. A Sra. Bradshaw mostra uma determinação corajosa em ajudar a garota (assim perdoando-a pelo que poderia ser visto por uma mulher inferior como cumplicidade na infidelidade de seu marido), apesar de sua incapacidade (e quem poderia imaginar isso?) de perdoar seu marido e a luta interna aparente que a situação a custa.
Rachel perdoa Ian imediatamente acerca de sua confissão que ele fora casado anteriormente e sua admissão do medo que ele poderia não dar a ela, filhos.

Jamie perdoa Claire e, relutantemente, Lord John, por terem dormido um com o outro, enquanto pensavam que ele estivesse morto, mas não consegue perdoar Lord John por confirmar diretamente seu próprio desejo por Jamie.

Claire instantaneamente perdoa Jenny, a cunhada que outrora ela amara profundamente. Jenny enfaticamente não perdoa Hal, o comandante dos homens que machucou sua família e que contribuiu para a morte de seu marido, mas ela aconselha e ajuda Claire, que deve lidar com sua realização que o homem que a estuprou está vivo, ao compartilhar a experiência de sua filha.
Buck MacKenzie não consegue se perdoar pelas formas como ele falhou com sua esposa. Roger explicitamente perdoa Buck pelo seu papel em enforcá-lo, mas demonstra o efeito bumerangue do perdão, no qual a sensação da ferida retorna e deve ser lidada outra vez.

Fanny perdoa William e Jamie por não terem sido capazes de salvar Jane, mas você pode claramente ver que eles não perdoam a si mesmos e vão viver com os efeitos de seu fracasso por algum tempo.
“Espaguete” é provavelmente o termo certo, realmente...



 GABALDON, Diana. The Outlandish Companion. New York: Delacorte Press, 2015. V.2, p. 545-550




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2 comentários:

  1. Ótimo Post Administradoras queridas!!!

    Obrigada pela tradução desse importante artigo!! Vocês São demais!!!! :))))

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