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10 de dez. de 2016

Geneva, sexo e Outlander... falemos sobre consentimento

Esqueça Geneva, sexo e Outlander... falemos sobre consentimento


CONTÉM SPOILERS DE "O RESGATE NO MAR"


N.T: Artigo traduzido do blog That’s Normal comentando a recente declaração de Diana Gabaldon sobre a cena de “sexo” entre Jamie e Geneva.

Como alguém gosta de uma série de livros enquanto não concorda com a autora ou com a maioria do fandom? É uma luta, e eu estou bem perto de desistir. Eu tenho amado a série Outlander desde o momento em que eu abri a primeira página. Eu faço as postagens re-kilted e cubro a série de TV ocasionalmente para o TN. Eu sou uma fã e amos as histórias. Diana Gabaldon nos deu personagens incríveis em um cenário memorável. Ela me fez aceitar um mundo no qual viagens no tempo existem! Fiz críticas a seu comportamento e seus comentários no passado, mas você não tem que amar todo mundo o tempo todo. Philiph Roth é um autor maravilhoso, um dos meus favoritos, e ele é um famoso idiota. Está tudo bem. Entretanto, após ler os comentários de Gabaldon no facebook essa semana em relação a uma cena controversa em O Resgate no Mar (o terceiro livro da série Outlander e a base para a terceira temporada da série de TV que está sendo filmada agora), eu não posso dizer que esteja tudo bem. Não está tudo bem. É um pouco apavorante.

EM GAÉLICO, PARE SIGNIFICA FORCE


Eu deixei claro em dois posts do TN que eu penso que o que aconteceu entre Jamie e Geneva foi estupro. Você pode discordar. Gabaldon certamente discorda. Não é a discordância que incomoda. Mas o seu entendimento sobre agressão sexual, sensibilidade cultural e vitimização merecem uma resposta.

Então... por que de diabos alguns de vocês pensam que Jamie a estuprou?
Porque ela disse “pare” e ele não parou. Esqueçam todo o resto que aconteceu e não aconteceu, esqueçam as personalidades das pessoas envolvidas, esqueçam o balanço do poder inato da situação, esqueçam a exploração de uma pessoa escravizada, esqueçam_tudo_exceto  a “crença” (talvez você queira procurar o significado dessa palavra, se você nunca a viu) que “não significa não”  (contanto que seja a mulher quem diga).”

Os comentários de Gabaldon vão além do reconhecimento do criticismo literário. A questão não é que ela criou uma cena inacreditável ou que Jamie/Jesus fez algo fora de seu personagem. A cena com Geneva é completamente crível. A questão é do que nós, os leitores modernos, chamamos o que aconteceu naquela cena. Estupro não é sempre claro e ordenado. A dinâmica de poder entre duas pessoas pode ser mercurial. Geneva usa o poder da posição que ela tem? Sim. Jamie usa o poder físico que ele tem? Sim. Geneva ou Jamie chamariam o que aconteceu com ela de estupro? Provavelmente não. O leitor moderno chamaria? Sim. E a razão para isso é que Geneva diz para ele parar e Jamie diz não.

Mas esqueçam Geneva. Olhem o que Gabaldon diz:

Em resumo, ‘não significa não’ não é- como algumas pessoas parecem pensar- uma lei da física imutável, verdadeira em todos os tempos e lugares. Não é nem mesmo lei ordinária. É uma ficção útil desenvolvida em resposta a um contexto cultural muito limitado (emergente nos últimos cinquenta anos) no qual sexo casual promíscuo tem sido amplamente aceito tanto como normal e como não imoral.”

Eu espero que minha filha nunca tenha alguém que lhe conte isso com toda seriedade, e Gabaldon é séria. “Não significa não” tem emergido no que nós aceitamos como consentimento porque é correto. Nós nos tornamos mais progressistas em nossos pensamentos com o passar do tempo; nós nos tornamos mais decentes. Eu sou uma leitora do século XXI, julgando o que aconteceu no século XVIII. Ninguém está dizendo que estupro e as linhas embaçadas do consentimento não aconteciam naquela época. Só estamos dizendo que Jamie fez essa coisa e essa coisa é o que chamamos de estupro.

Essencialmente, dentro desse pedacinho ideológico específico, ‘não’ é uma palavra de segurança. Ela tem a intenção de impedir que as coisas saiam do controle, e se idealmente empregada, frequentemente funciona. Entretanto, nenhuma palavra de segurança é eficaz a menos que ambas as partes reconheçam as mesmas regras de engajamento.”

O que porra é isso? “Sinto muito, Meritíssimo. Minha vítima tinha uma palavra de segurança com a qual eu nunca concordei.”

Ele não para. [Aqui eu vou fazer uma pausa para o suspiro! De choque de cuja inocência, condicionamento cultural (veja abaixo) ou falta de experiência (...)”

Então se nós pensamos que isso é estupro, somos ou virgens, estudantes de Oberlin[1] ou estudantes virginais em Oberlin? Oh, Okay.

MAIS UMA COISA SOBRE RELAÇÕES SEXUAIS


Eu sei que Gabaldon é uma grande amante da ciência, mas sua visão da perda de virgindade é cômica.

Ela_é _uma_virgem, o que significa que há um ponto inevitável onde empurrar torna-se forçar literalmente.”

O hímen não é feito de aço valiriano. A vagina pode se lubrificar e expandir para acomodar o pênis até mesmo na primeira vez. Mesmo que haja um hímen intacto. Sua primeira experiência com sexo não precisa ser dolorosa ou requerer uma forçada. Se você é uma virgem hétero lendo isso, tenha certeza que você esteja bem lubrificada (...), que tenha um bom orgasmo, e que seja bem cuidada quando você for dar o salto. Pode ser fantástico, especialmente se você exigir seu próprio prazer. Forçar é algo muito evitável.

O FANDOM


O mais angustiante para mim (porque eu estou acostumada com Gabaldon a este ponto) foi a reação de alguns de seus partidários no facebook:

Bem dito! Eu não acredito que pessoas chamaram essa cena de estupro! É uma parte lindamente escrita. Me faz amar o personagem de Jamie ainda mais.”

“Há pessoas que realmente pensam que Jamie estuprou Geneva? Okay...Bem, minhas interpretação foi exatamente a descrita acima. Com Geneva sendo jovem, mimada, intitulada, mas também assustada. Em uma posição de poder (pelo menos em relação a Jamie) e abusando...”

“AlGUMA VEZ existiu essa dúvida? Que reflexão triste na sociedade atual em que você deveria sentir a necessidade de explicar isso, Diana, entretanto, sucintamente. Sua geração e a minha lutou arduamente para que mulheres fossem tratadas iguais aos homens mas parece que nós...”
 (Pegando minha cabeça da mesa…)
Uma desculpa que eu vi sobre esses comentários é que os fãs mais idosos pensam que não é estupro, isto é, fãs mais jovens são mais sensíveis à questão do consentimento. Vocês sabem o quê? Idade não é uma desculpa. “Oh, vovó não pode evitar! Ela é racista, mas ela é idosa.” Se pessoas negras puderam suportar Jim Crow[2], sua avó babaca pode suportar que lhe digam para ela parar de ser um lixo de pessoa.
Ei, fãs idosos, vocês cresceram na época da libertação sexual e da primeira e segunda ondas do feminismo: não sejam tão desprezíveis e ignorantes sobre o que constitui assédio sexual. Eu tenho 43 anos. Não sou tão jovem. Minha experiência universitária me fez questionar meu papel na minha própria agressão sexual. Mas eu tenho prestado atenção e eu aprendi a quem culpar e com certeza não sou eu.
Nota da administradora do That’s Normal: Você acha que não somos verdadeiros fãs de Outlander depois disso? Pense novamente. Nós temos estado animados em relação aos livros, a série, o elenco e os figurinos por anos. A resposta apaixonada que temos a isso é a prova positiva que nos importamos- talvez um pouco demais na verdade.

Fonte Original / Tradução Outlander Brasil 






[1] N.T: os estudantes da universidade de Oberlin tem o costume histórico de renomear prédios públicos, ideias, eventos e etc...portanto tendo um conjunto de vocabulário próprio para chamar coisas que tem outro nome para o resto da população.
[2] N.T: “As leis de Jim Crow (em inglês, Jim Crow laws) foram leis locais e estaduais, promulgadas nos Estados do sul dos Estados Unidos, que institucionalizaram a segregação racial, afetando afro-americanos, asiáticos e outros grupos étnicos. Vigoraram entre 1876 e 1965.” (fonte)

Comentários via Facebook

13 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Uau! Eu nunca achei a cena do Jamie com a Geneva um estupro. Ela era inexperiente ao contrário dele. Ela estava nervosa e pediu para ele parar,mas continuou. Isso tinha que acontecer. É um livro com uma história do século XVIII e estamos no século XXI quase tudo mudou. Quantas vezes usando a minha razão de hoje para os atos do passado condenando a forma da situação das pessoas naquela época?! É difícil não condenar certos atos,mas eu procuro entender aquela época. A Diana é extremamente incrível na escrita da história e emociona a cada capítulo.

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  3. Nossa li esse livro a tanto tempo e como todos os livros de outlander li de novo muitas vezes e nunca pensei nessa cena como estupro e na verdade se fosse estupro de alguem na minha cabeça seria da geneva qu abusou do seu poder para fazer com que jamie dormisse com ela. Naquela hora, para mim, ela parou de ser a menina abusada que era e como todas as meninas na primera vez, ficou assustada.

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  4. Me sinto confortada por perceber que não sou a única pessoa passional que lê esta série e se envolve emocionalmente com os personagens. Me faz sentir menos maluquinha... e se alguém foi forçado, foi ele...

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  5. Pra mim não foi estrupo porque houve consentimento,e se alguém foi forçado foi Jamie.

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  6. Não entendi como estupro. Na leitura percebi um contexto onde o que aconteceu caberia perfeitamente. Claro que entendo o não como não, mas naquela situação e época, não me chocou e não me revoltou. Como também não entendi como uma traição a Claire, como já li em alguma outra resenha. Bjs meninas

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  7. Li bem recentemente, e tive essa mesma impressão da falta de consentimento, sim. E para todas/todos que estão nessa de "nunca vi essa cena como estupro", saiba que é totalmente normal. Chama-se "cultura do estupro" e estamos muito inseridos nela. Mas se uma garota (mesmo mimada, manipuladora e "má" ou o que quer que seja, diz não, temos - no século XXI - que interpretar como NÃO). Entendi a cena como algo fictício que ocorrera no século XVIII, o que a torna irrelevante, mas por definição moderna da palavra, a quem queira saber, aquilo é o que se chama sexo sem consentimento.

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  8. Eu acho que foi estupro tanto quanto Jamie foi abusado pois também não queria estar ali. Mas no século XVIII praticamente todas as mulheres eram estupradas pois desconheciam o seco em si e na maioria das vezes eram obrigadas a entrar em casamentos arranjados e com certeza na hora H diziam não. Nessa época também os homens cresciam acreditando terem dureito do seu prazer saciado independente do consentimento da mulher. Muitos acreditavam que uma mulher nem gostava disso ou poderia sentir prazer (vide as palavras de Jamie após a sua primeira vez sobre Clair ter gostado ou não).
    Tenho 42 anos, não sou velha, mas acho que o problema maior dessa geração é que fazem muito mimimi porque vêem tudo fora de contexto; têm preguiça de procurar e entender todos os fatos e circunstâncias.

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  9. Se foi sem consentimento, ela não pediria por mais. Nenhuma vítima de estupro pede para ser violentada mais de uma vez.

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  10. Se foi sem consentimento, ela não pediria por mais. Nenhuma vítima de estupro pede para ser violentada mais de uma vez.

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  11. Aconteceu sim um estupro, isso é claro, a menina disse que não queria na hora H e foi forçada.
    No entanto a maioria das personagens e a mentalidade da época considerariam que não ocorreu estupro, a moralidade do século XXI é diferente, isso não quer dizer necessariamente que Jaime foi "ruim" (para mim é a mesma coisa com relação a ele ter batido na Claire depois do Fort William - ele fez algo parte da cultura dele e julgar algo cultural é complicado)...

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  12. Não cabe aqui estas discussões. Trata-se de um romance histórico. A cultura da época deve estar presente nas linhas e nas entrelinhas. Se a situação estivesse calcada na idade contemporânea com certeza deveria ser discutida.

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  13. Eu também não achei a cena do Jaime com Geneva estupro foi conscientizado por ela ;eu estou exatamente nessa parte do livro ;apesar que tinha assistido a série primeiro mais nunca me passou pela cabeça que foi estupro o Jaime foi o mais cavalheiro que pode lidando com a situação ele foi forçado mais novamente repito teve o consentimento dela !

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